Combustão - Cor associada a algumas temperaturas em incêndios - Elementos do fogo (triângulo e tetraedro do fogo - fontes de calor - ponto de fulgor / ignição / auto-ignição / temperatura / comburente / oxigênio / combustível orgânicos e inorgânicos / reação em cadeia / oxigênio / hidroxila / hidrogênio / átomos) - Classificação da combustão - Quanto à liberação de produtos (incompleta / completa / viva / chama difusa) - Quanto à velocidade da combustão - Combustão espontânea - O estudo da vela (chama difusa) - Explosão ( exemplo / backdraft / backdraught / detonação - deflagação - (inflamabilidade de algumas substâncias)
Combustão
Antes de se tratar da combustão
propriamente dita, é preciso lembrar o que ocorre antes que uma substância
queime, ou seja, entre em combustão.
Tudo o que existe no universo é formado
de matéria, a qual pode ser definida, de uma forma
simplificada, como algo que ocupa espaço e é composta por moléculas que, por
sua vez, são constituídas por átomos de um ou mais elementos em uma combinação
química.
Como a matéria interage entre si,
substâncias são criadas, transformadas e destruídas. A matéria,
porém, não pode ser destruída, apenas transformada.
A maior parte do que existe no universo
é composta por moléculas que são normalmente estáveis, mantendo sua forma, a menos
que algo as faça mudar de condição.
Se uma fonte de calor – que pode ser um
fósforo aceso, uma fagulha ou um corpo aquecido – aproxima-se de uma substância
qualquer (matéria), inicia-se aí uma reação química entre esta e o oxigênio
presente no ar, com um aumento gradual de temperatura e de liberação de calor,
fazendo com que as moléculas, antes estáveis, sejam quebradas.
A pirólise, também
conhecida como decomposição térmica, é o processo de quebra das moléculas que
compõem uma substância em outras moléculas ou átomos, em conseqüência da ação
do calor.
A maioria dos combustíveis sólidos e
líquidos passa primeiramente para o estado gasoso antes de sua ignição, o que
vale dizer que todos estarão na fase gasosa para sofrer combustão.
Os gases combustíveis desprendidos
durante a pirólise influenciam
sobremaneira o comportamento da queima, por causa das moléculas e átomos que os
compõem e que reagem com o oxigênio durante toda a queima, permanecendo próximo
à substância decomposta.
Figura 4 - Desenho esquemático de uma
situação antes da generalização do incêndio
A energia de ativação é a
energia necessária para iniciar uma reação química. No caso deste estudo, é a
energia mínima para fazer com que o material combustível entre em pirólise.
Essa quantidade de energia varia
conforme o material combustível. Em via de regra, quanto melhor a mistura
(combinação) entre o combustível e o ar, menor será a energia necessária para
iniciar a combustão, ou seja, mais facilmente ocorrerá a queima.
A figura 4 mostra uma cena típica de incêndio, no qual os móveis
ainda não atingidos pelas chamas começam a desprender gases combustíveis pelo aquecimento
do ambiente. Isso significa que estão sofrendo pirólise.
Se não houver interferência, em pouco tempo,
os móveis se inflamam, fazendo com que todo o ambiente fique tomado pelas
chamas.
Pirólise é a decomposição química de uma substância
mediante a ação do calor.
À medida que os gases desprendidos pela
pirólise se inflamam, gerando luz (chama) e calor, obtém-se o fogo
(combustão).
Elementos do fogo
Durante muito tempo acreditou-se que,
para haver fogo, eram necessários três elementos: o oxigênio, também chamado de
comburente; o calor, responsável por fornecer energia à mistura; e o combustível,
constituindo-se assim o triângulo do fogo (Figura 5).
Figura 5 - Triângulo do fogo
Combustão pode ser definida, então, como a reação
química envolvendo uma substância combustível e um agente oxidante, normalmente
o oxigênio do ar, produzindo luz e energia. Antes de ocorrer a combustão, as
substâncias (sólidas e líquidas) sofrem pirólise, por causa da energia de
ativação no material combustível.
Nos últimos anos, estudos científicos
mostraram que existe uma reação química contínua entre o
combustível e o comburente, a qual libera mais calor para a reação e mantém a
combustão em um processo sustentável, que é a reação em cadeia.
Como será abordado mais adiante, essa
reação é responsável por fornecer continuamente o calor necessário e os gases
combustíveis que permitem o desenvolvimento da combustão. Alguns autores passaram,
então, a admitir a inclusão desse quarto elemento e, consequentemente, a figura
de um tetraedro (Figura 6) como a forma mais precisa para o estudo do processo
de combustão.
Figura 6 - Tetraedro do fogo
É possível observar a existência de quatro triângulos. As faces da pirâmide representam o oxigênio, o combustível e o calor. O triângulo da base representa a reação em cadeia, sendo a interface entre os outros três elementos.
Tetraedro do fogo é
a combinação do combustível com o oxigênio, na presença de uma fonte de
calor, em uma reação química em cadeia, liberando energia em forma de
luz e mais calor, além de outros produtos químicos.
Na análise de ambas as figuras, é
possível observar que, quando se trata de elemento propriamente dito, existem
no triângulo ou no tetraedro do fogo: o comburente, o combustível e o calor. A
reação em cadeia é um processo que une estes elementos, dando sustentabilidade
à reação e não um elemento em si.
A Figura 7 é capaz de representar este processo.
Figura 7 – Representação do fogo
É importante lembrar que, independente
da figura que o representa, o fogo é extinto quando um dos seus elementos é
retirado ou quando a reação que os envolve é interrompida.
Saber controlá-los é fundamental para o
êxito dos bombeiros no combate ao incêndio.
O calor, antigamente
conhecido como agente ígneo, é o componente energético do fogo e será o
elemento responsável pelo início da combustão.
É o elemento que causa a vaporização do
combustível (sólido ou líquido), sendo responsável por manter a temperatura da
reação, que, durante a combustão, continuará havendo a liberação de mais calor.
Como dito anteriormente, na maior parte dos combustíveis há uma mudança de
estado para o gasoso antes de inflamar-se.
Nos combustíveis gasosos, isso não
ocorre, pois já estão em condições de alcançarem a ignição.
Uma fonte de calor pode ser qualquer
elemento que faça com que o combustível sólido ou líquido desprenda gases
combustíveis e venha a se inflamar. Na prática, pode ser uma chama, uma fagulha
(faísca ou centelha) ou ainda uma superfície aquecida.
A superfície aquecida, a qual pode ser
obtida por meio de um forno de fogão que acabou de ser utilizado, de
equipamento eletroeletrônico com defeito ou, ainda, de maquinário industrial
que dissipe grande quantidade de calor, costuma ser menosprezada pelos bombeiros
em ocorrências envolvendo vazamento de gás ou ainda durante o combate a
incêndio, contudo, tal esquecimento pode causar acidentes.
Portanto, é importante lembrar que o
risco de uma fonte de
calor não se resume à chama. A
temperatura atingida por uma superfície aquecida é suficientemente capaz de
iniciar um incêndio ou deflagrar uma explosão em muitos materiais combustíveis.
Da mesma forma, se um combustível
líquido armazenado em tanque for aquecido, o calor distribuir-se-á por todo o
volume de combustível. Quando estiver totalmente aquecido e houver a impossibilidade
de dissipação do calor para o ambiente, ocorrerá um aumento de temperatura tal
capaz de fazer com que o líquido entre em ebulição e atinja o ponto de
auto-ignição.
A existência de superfícies aquecidas em um ambiente
com vazamento de gás pode deflagrar uma explosão no ambiente, mesmo sem a
presença de chamas.
A Tabela 1 apresenta as temperaturas
estimadas das principais fontes de calor iniciadoras de incêndio.
Em outras palavras, pode-se dizer que,
no tetraedro do fogo, o calor é responsável por:
• produzir os vapores combustíveis em materiais sólidos e líquidos (pirólise);
• causar a ignição do material combustível (sólido, líquido ou gasoso);
• promover o crescimento e propagação das chamas, pela manutenção
de um ciclo contínuo de produção de vapor de combustível e de energia para
ignição desse material.
Uma fonte de calor pode ser obtida por
uma fagulha, pelo contato direto da chama ou pelo aumento
da temperatura ambiente.
No processo de combustão, os materiais
combustíveis atingem pontos diferentes de temperatura à medida que se vão
aquecendo, ou seja, à medida que sofrem pirólise.
Esses são conhecidos como pontos de
temperatura.
O ponto de fulgor, é
atingido quando os vapores liberados pelo material combustível sólido ou
líquido entram em ignição em contato com uma fonte externa de calor, porém ao
retirá-la, as chamas não se mantêm. Isso ocorre, porque a quantidade de vapores
combustíveis liberada é muito pequena.
O ponto de ignição, é
atingido quando os vapores liberados pelo material combustível entram em ignição
em contato com uma fonte externa de calor, mantendo a chama mesmo com a
retirada da fonte. Reações sustentáveis de combustão ocorrem quando calor suficiente,
proveniente de uma reação exotérmica (reação que libera calor), é gerado nas
imediações do combustível, produzindo vapores em concentração suficiente que
permita o desenvolvimento auto-sustentável da combustão.
A auto-ignição de um
determinado material combustível ocorre quando, em condições atmosféricas
normais, este material inflama-se espontaneamente, sem a presença de uma fonte
externa de calor, tais como, chama ou fagulha. Sua temperatura pode coincidir
ou não com a temperatura do ponto de ignição do mesmo material.
No ponto de ignição, a chama se mantém quando a fonte
de calor inicial se afasta. No ponto de fulgor, a chama acende e se apaga
quando a fonte de calor se aproxima e se afasta, respectivamente.
Um material combustível é considerado
inflamável quando seu ponto de fulgor é menor que 80 °C, sendo sólido,
líquido ou gasoso.
A Tabela 2 apresenta a temperatura de
ignição de materiais
comumente presentes em incêndio como
madeira, carpete, gesso e borracha.
No ponto de auto-ignição, o combustível sofre um
aquecimento gradual até se inflamar sem a presença de uma fonte direta de
calor.
O comburente é a
substância que reage com os gases combustíveis liberados na pirólise, também
conhecida como agente oxidante. Na maioria das vezes, o comburente será o
oxigênio, elemento presente na atmosfera terrestre.
Na concentração normalmente presente no
ar, em torno de 21%, o oxigênio permite que ocorra a
livre queima das substâncias, com a presença de chamas. Se a concentração de
oxigênio na reação diminuir, as chamas sofrerão diminuição ou total extinção.
Na medida em que a combustão se
processa, a quantidade do comburente em um ambiente é determinante para a
propagação ou para a extinção do fogo.
Se houver uma diminuição do oxigênio,
ainda que por ação do incêndio, a combustão será mais lenta. Se, ao contrário,
houver abundância de oxigênio, a reação química será acelerada, intensificando as
chamas.
Na concentração de 15% de oxigênio no
ambiente, ocorre a extinção das chamas. Entretanto, o
ambiente continua bastante aquecido, bastando apenas a inserção de ar para que
se inflamem novamente. Isso pode ocorrer com a entrada dos bombeiros no local para
o combate.
Em um incêndio estrutural, a condição
do ambiente pouco ventilado devido à delimitação das
paredes e do teto exigirá maior cuidado e atenção por parte dos bombeiros, pois
a quantidade de ar disponível para a queima é limitada.
Existem substâncias que também atuam
como comburentes, tais como: o cloro (Cl2), o cloreto de sódio (NaCl), o
clorito de sódio (NaClO2) e o clorato de sódio (NaClO3), o que exige muito
cuidado em ambientes onde eles se encontram.
O oxigênio intensifica a combustão.
Também pode haver ocorrência de fogo em
atmosferas com ausência de oxigênio, quando os
combustíveis comuns são misturados com oxidantes químicos, os quais conseguem
liberar oxigênio com facilidade, como o fertilizante nitrato de amônio
(NH4NO3), nitrato de potássio (KNO3) e peróxido de hidrogênio (H2O2).
Atmosferas enriquecidas com oxigênio,
como o caso de indústrias, hospitais e locais com utilização de oxi-acetileno
(maçaricos) ou de aparelhos de oxigenoterapia podem apresentar, no caso de incêndio,
velocidade e intensidade de queima superior ao que comumente ocorre, o que
exigirá dos bombeiros também maior cuidado e atenção.
Os óleos, na presença de altos níveis
de oxigênio, sofrem ignição espontânea, ou seja, entram em ignição sem a
presença de uma fonte de calor. Por esse motivo, canos, dutos, instrumentos de
medição e engates que transportam oxigênio devem possuir aviso de advertência de
“não usar óleo”.
O Nomex(R), material utilizado nos
equipamentos de proteção individual de roupas de aproximação, também se inflama
em contato com altos níveis de concentração de oxigênio independente de uma fonte
de calor. Por isso, os bombeiros devem ter mais cautela na abordagem de
ocorrências com atmosferas enriquecidas de oxigênio, como o caso de indústrias
ou de hospitais, independente da presença de fonte de calor.
O combustível é o
elemento definido como o campo de propagação do fogo. É todo material capaz de
queimar quando aquecido e mantém a combustão.
Os combustíveis podem ser classificados
conforme o seu estado físico em sólido, líquido ou gasoso. São exemplos:
• sólido: madeira, papel, tecido, borracha, etc;
• líquido: diesel, gasolina, álcool, querosene, etc;
• gasoso: G.L.P. (gás liquefeito de petróleo), acetileno, gás natural, etc.
A maior parte dos combustíveis sólidos
passa para o estado gasoso antes de alcançar a ignição,
mediante a liberação dos gases pela pirólise. Exemplos de exceção dessa regra
são: o enxofre, os metais alcalinos – potássio, cálcio – a cânfora e a
naftalina, que queimam diretamente em sua forma sólida.
Os combustíveis líquidos necessitam
sofrer vaporização ou dissolução em pequenas gotas
(atomização) para que se inflamem. É possível observar que, na queima de
líquido, a chama ocorre a certa distância da superfície. Essa regra é válida
para os líquidos combustíveis ou inflamáveis, quando aproximados de uma fonte
de calor externa.
Tal fenômeno pode ser observado ao
atear fogo em um pedaço de madeira, que é um combustível sólido. É possível
notar que as chamas se desenvolvem a partir de uma determinada altura, não tocando
sua superfície, o que significa que estão sendo queimados os gases liberados
por ele (ver Figura 8).
Figura 8 – Chama envolvendo um pedaço
de madeira
O estado gasoso é o estado ideal para as queimas,
essencialmente necessário para a combustão. Portanto, a maioria dos
combustíveis sólidos e líquidos passa para o estado gasoso antes de se
inflamar.
Chama-se de estado normal dos
combustíveis aquele no qual o material existe sob condições normais de
temperatura e pressão, ou seja, 21ºC e 1 atmosfera.
Condições acima desses valores são
comuns em incêndios e fazem com que os combustíveis entrem em
pirólise e, continuando a reação, atinjam o seu ponto de ignição, propagando o
incêndio.
A pressão e a temperatura também
influem diretamente no estado físico do combustível, bem como
no desenvolvimento da combustão. Exemplo prático para se evitar tal ocorrência
consiste nos bombeiros manterem um líquido armazenado ou derramado resfriado o suficiente
para evitar sua evaporação, prevenindo a pirólise e a combustão desse material.
A mudança do estado físico de um
material combustível pode assumir uma das formas mostradas na Figura 9:
Na figura 8, é possível observar que a
chama “envolve” a madeira, a certa distância, queimando os gases combustíveis
liberados por esta e não diretamente sua superfície.
Figura 9 - Principais processos de
mudança de estado físico
Quanto à sua composição, os
combustíveis podem ser classificados como orgânicos ou inorgânicos.
São chamadas de combustíveis
orgânicos todas as substâncias que são ou já foram organismos vivos,
como a madeira e o papel. Vale ressaltar que esse conceito se aplica também aos
organismos que não necessariamente tenham sido vivos, mas que sejam compostos
de elementos que já foram vivos, como os derivados de petróleo.
Os combustíveis orgânicos compostos de
carbono e hidrogênio são denominados hidrocarbonetos. Outros, como o plástico e
a borracha, podem conter, além de carbono e hidrogênio, outros elementos como
nitrogênio, cloro, flúor e enxofre.
Os combustíveis inorgânicos,
comumente denominados de minerais, não possuem carbono em sua estrutura
molecular, sendo que geralmente não contribuem significativamente no processo
de combustão, por serem pouco combustíveis. São exemplos: o ferro, magnésio e
sódio, bem como granito, quartzo e silício.
A velocidade da queima dependerá de
dois fatores:
• da capacidade do combustível de combinar-se com o oxigênio
sob a ação do calor, o que caracteriza sua combustibilidade; exemplo: a madeira
é mais combustível que o aço;
• da área disponível para a queima - quanto maior for a área
superficial do combustível exposta ao calor, o que representa sua relação
superfície versus massa, mais fácil será de se alcançar a ignição da substância
e, conseqüentemente, menor será a energia de ativação necessária para fazê-la
entrar em pirólise.
Exemplo: se uma chama de fósforo for
aproximada de um tronco de árvore, o fogo, muito provavelmente, não se
sustentará. Se, entretanto, for aproximado o mesmo fósforo da madeira, em igual
quantidade, só que em forma de serragem, o resultado será bem diferente. Outro
exemplo é o de alguns líquidos inflamáveis, como diesel, caracterizado pela
dificuldade de alcançar a ignição quando se encontra em forma de poça, mas
queima rapidamente se estiver na forma de spray (partículas suspensas),
necessitando de uma energia bem menor para inflamar-se.
A área de queima do material
combustível é representada pelo coeficiente superfície-massa do objeto. A
combustão da madeira pode ser tomada novamente como exemplo.
Um tronco de madeira irá queimar mais
lentamente que uma fogueira feita com a lenha do mesmo tronco em pedaços. A massa de
madeira nas duas situações é rigorosamente a mesma, porém a superfície de
madeira exposta às chamas é bem maior no caso da fogueira.
Portanto, a combustão se dá com maior
facilidade nesse caso, ou seja, quanto maior for esse coeficiente, mais
completa será a queima do material combustível, em razão da forma em que se
apresenta no ambiente em que ocorre o
incêndio.
A reação em cadeia, parte
integrante do tetraedro do fogo, é o processo que envolve os três elementos:
combustível, comburente e fonte de calor. É a reação química ocorrida na
combustão que se processa pela combinação do oxigênio com os átomos e
moléculas, resultantes da quebra molecular do material combustível pela ação do
calor. Cada material combustível possui uma estrutura molecular própria, o que
faz com que sua combinação com o oxigênio seja também variável e resulte em
diferentes produtos.
O calor inicial quebra as moléculas do combustível, as
quais reagem com o oxigênio, gerando mais luz e calor que, por sua vez, vão
decompor outras moléculas, continuando o processo de forma sustentável. A
combustibilidade de um material é a sua capacidade de reagir com o oxigênio ao ser aquecido, dependendo de
sua forma e composição. Por isso alguns materiais são mais combustíveis que
outros. Um mesmo material terá níveis diferentes de combustibilidade dependendo
da forma em que se encontra.
Na maioria das vezes, as reações
químicas da combustão resultarão em átomos e moléculas capazes de continuar
reagindo com o oxigênio, gerando assim um processo sustentável de queima, por
isso o nome reação em cadeia. Para uma maior compreensão, será
demonstrada a reação química ocorrida durante a combustão do
hidrogênio.
Em uma situação hipotética, um
determinado ambiente está cheio de moléculas estáveis de hidrogênio (H2), que
será o combustível, e oxigênio (O2), que é um comburente. Para fins didáticos, serão consideradas
somente quatro moléculas de H2 e uma de
O2.
Figura 10 - Situação inicial com 4
moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio
A formação acima é estável. Entretanto,
ao sofrer aquecimento pela ação de uma fonte de calor, a molécula de hidrogênio
à esquerda da figura se quebrará formando dois átomos instáveis de hidrogênio, como
na figura abaixo.
Figura 11 - Quebra do hidrogênio
Para alcançar o equilíbrio, os átomos
de hidrogênio irão reagir com os átomos de oxigênio, fazendo a quebra dessa
molécula.
Novamente, por fins didáticos, só será
considerada a reação com um átomo de hidrogênio. O outro átomo, o da esquerda
na figura acima, sofrerá o mesmo processo que este, mas será desconsiderado no exemplo.
Figura 12 – Formação da hidroxila
Ao reagir com o oxigênio, o átomo de
hidrogênio formou uma molécula (hidroxila) e deixou um átomo de oxigênio
sozinho. Tanto a hidroxila quanto o átomo de oxigênio são instáveis e irão
decompor outras moléculas de hidrogênio até alcançarem o equilíbrio.
A hidroxila irá reagir rapidamente com
uma molécula de hidrogênio (H2), produzindo uma molécula de água (H2O) e
deixando outro átomo de hidrogênio sozinho. O átomo de oxigênio liberado no passo
anterior (ver Figura 12) reage com outra molécula de hidrogênio (H2),
produzindo uma nova hidroxila (OH) e deixando sozinho outro átomo de
hidrogênio.
Figura 13 - Quebra de outras duas
moléculas de hidrogênio
Na continuação do processo, foram
deixados dois átomos de hidrogênio sozinhos, aumentando a instabilidade das
moléculas da reação (ver Figura 13).
A nova hidroxila irá então quebrar
outra molécula de hidrogênio para formar uma outra molécula de água, deixando
sozinho outro átomo de hidrogênio, conforme a disposição abaixo (ver Figura
14).
Figura 14 – Resultado da quebra: três
outros átomos instáveis de hidrogênio
Como a molécula de água é estável, de
sua parte não haverá mais quebras. Se os produtos dessa queima fossem somente a
água, a reação seria estável. Entretanto, formaram-se também átomos instáveis de
hidrogênio.
Desse modo, é possível observar que a
reação inicial de um único átomo de hidrogênio resultou em
outros três átomos. Estes, por serem instáveis, são capazes de continuar
reagindo e quebrando outras moléculas. Continuando a reação, esses 3 átomos
resultarão em mais 9.
Os 9 irão liberar mais 27, os quais
formarão mais 81 e assim por diante.
Isso é um exemplo de reação em cadeia.
Essas moléculas e átomos instáveis,
também denominados íons, estão presentes no ambiente e
tendem a se concentrar nas chamas e na fumaça. Durante todo esse processo de
quebra, há liberação de energia em forma de calor, que faz com que a reação se sustente.
Por isso, a combustão é considerada uma reação sustentável, mantendo as chamas
e o calor até que haja alguma interferência no sentido de interromper esse
processo.
A continuidade da reação em cadeia será
diretamente influenciada pela capacidade de o material combustível absorver e
reter o calor aplicado. Se ele dissipar mais calor do que absorve, a quebra molecular
será interrompida e o processo de queima se extinguirá.
Diante de tudo o que foi exposto, é
correto afirmar que o incêndio produzirá fumaça, contendo em seu interior
átomos e moléculas em condições de continuar reagindo com o oxigênio e muito calor.
Em um ambiente fechado (como um cômodo), a fumaça necessitará apenas de
oxigênio para alcançar a ignição de forma rápida e violenta, o que pode ser
obtido pela inserção de ar no ambiente por uma ação incorreta dos bombeiros.
Classificação da combustão
O fogo, ou combustão, geralmente
envolve a liberação de luz e energia em quantidades suficientes para ser
perceptível. Mas nem sempre existirá luz em uma chama. Um exemplo dessa exceção
é a queima do hidrogênio, que produz apenas vapor d’água por meio da sua reação
química com o oxigênio. Embora não exista chama visível, muita energia é
produzida, o que faz com que seja nomeada como combustão.
A combustão pode ser classificada,
quanto à sua velocidade de reação, em viva ou lenta. Quanto à formação de
produtos da combustão, pode ser classificada como completa ou incompleta.
Existe, ainda, a combustão espontânea, que será abordada em separado, em função
de suas particularidades.
Quanto à liberação de produtos
Quanto aos produtos liberados, a
combustão pode ser completa ou incompleta.
Combustão incompleta
Todos os produtos instáveis (íons)
provenientes da reação em cadeia caracterizam uma combustão incompleta, que é a
forma mais comum de combustão. Esses átomos e moléculas instáveis resultantes
da quebra molecular dos combustíveis continuarão reagindo com as moléculas de oxigênio,
decompondo-as e formando outras substâncias.
Durante todo esse processo, haverá
produção de mais chamas e calor, o que exigirá uma interferência externa para
que a reação pare e as chamas sejam extintas.
Em incêndios estruturais, devido às
características construtivas do ambiente (delimitado por teto e paredes),
normalmente, a quantidade de oxigênio
disponível para o fogo é limitada e tende a decrescer. Essa condição fará com
que as chamas sofram uma diminuição e até se apaguem.
Entretanto, mesmo com a diminuição
destas, a camada gasosa presente na fumaça permanece aquecida e carregada de
íons capazes de reagir com o oxigênio, o que a torna uma massa combustível, necessitando
apenas de ar para reiniciar a combustão. Se a ação dos bombeiros não for
cuidadosa e dentro das técnicas de combate a incêndio apropriadas, pode haver
uma explosão da fumaça, conhecida como backdraft, que será abordada mais
adiante, expondo os bombeiros e as vítimas à morte ou a danos graves. A
combustão incompleta gera resíduos que compõem a fumaça.
A combustão incompleta é a combustão que libera
resíduos que não foram totalmente consumidos durante o processo de queima,
provenientes da reação em cadeia e capazes de continuar reagindo com o ar.
Combustão completa
Em algumas reações químicas pode
ocorrer uma combustão completa, o que significa dizer que todas
as moléculas do combustível reagiram completamente com as moléculas de
oxigênio, tornando seus produtos estáveis.
Também chamada de combustão ideal, seus
produtos são apenas dióxido de carbono e água.
Como exemplo, analise-se a combustão do
metano: uma molécula de metano (CH4), ao reagir com duas moléculas de oxigênio (O2),
forma duas moléculas de água (H2O) e uma de dióxido de carbono (CO2) em uma
combustão completa, conforme a equação:
Se qualquer um dos elementos do fogo for retirado, o
fogo será extinto. Saber controlar esse processo é muito importante para o
trabalho dos bombeiros na prevenção e no combate aos incêndios.
O problema é que essa equação descreve
uma situação ideal. Nos incêndios, geralmente, a mistura é muito rica em metano
(ou qualquer outro combustível), havendo a formação de monóxido de carbono (CO)
e não somente de dióxido (CO2). O monóxido, por sua vez, é instável e vai
continuar reagindo com o oxigênio, quebrando outra molécula e formando outras substâncias
instáveis. Isso gera uma reação em cadeia semelhante ao que ocorre com o gás
hidrogênio e com a maioria dos combustíveis presentes na natureza. Exemplos
práticos de combustão completa, também conhecida como queima limpa, são as
chamas obtidas pelo fogão e pelo maçarico.
É importante lembrar que combustão
completa não é o mesmo que queima total. A queima total de uma substância é a
situação na qual todo o material combustível presente no ambiente já foi
atingido pela combustão, enquanto que a combustão completa é a combinação estequiométrica
entre o combustível e o oxigênio.
Quanto à velocidade da combustão
Quanto à sua velocidade de reação, a
combustão pode ser viva ou lenta.
Combustão completa é aquela em que o combustível reage
perfeitamente com o comburente, produzindo somente água e dióxido de carbono.
Combustão viva
A combustão viva é o fogo caracterizado
pela presença de chama. Pela sua influência na intensidade do incêndio, é
considerada como sendo o tipo mais importante de combustão e, por causa disso, costuma
receber quase todas as atenções durante o combate.
Figura 15 - Exemplo de combustão viva
É importante lembrar que só pode
existir uma combustão viva quando houver um gás ou vapor queimando, ainda que
proveniente de combustíveis sólidos ou líquidos, uma vez que a combustão se
processa em ambiente gasoso.
O tamanho da chama não é um fator
relevante para classificar a reação como combustão viva. Para que isso ocorra é
necessário que uma quantidade suficientemente perceptível de energia seja
liberada, ou seja, é a relação entre a energia de ativação e a unidade de
volume de uma reação química que determina se a reação é fogo ou não.
No começo da combustão, esse nível de
energia inicial pode ser em torno de 1.000 (103) kW/m3, que
é suficiente para aquecer 1 grama de água em 1 ºC por segundo. Reações sustentáveis de incêndio podem
atingir densidades muito maiores – algo em torno de 1010 kW/m3.
A temperatura nessa zona de reação pode
atingir 2000 ºC em combustíveis líquidos e 1000 ºC em combustíveis sólidos (incandescência).
A taxa de liberação de calor em uma
combustão caracteriza a potência, ou seja, a quantidade de energia liberada em
um determinado intervalo de tempo (normalmente dado em kJ/s ou kW) e é uma
medida quantitativa do tamanho do incêndio. Ela descreve como será liberada a energia
disponível dos materiais existentes no local. Alguns exemplos de pico de taxas
de liberação de calor podem ser vistos na tabela Tabela 3.
Combustão lenta
A incandescência – smoldering –
é um processo de combustão relativamente lento que ocorre entre o oxigênio e um
sólido combustível, comumente chamado de brasa.
Incandescências podem ser o início ou o
fim de uma chama, ou seja, de uma combustão viva. Em todos os casos há produção
de luz, calor e fumaça.
Figura 16 - Incandescência em um
incêndio
A reação se desenvolve na superfície do
sólido e o oxigênio se difunde para a superfície deste, a qual começa a luzir e
a queimar. A luminescência é indicativa de temperaturas acima de 1000 ºC. Geralmente, há presença de incandescência na fase final
dos incêndios. Ela pode tornar-se uma combustão viva se houver um aumento do
fluxo de ar sobre o combustível, semelhantemente ao efeito que se deseja obter ao acender uma
churrasqueira. Por isso, uma ação de ventilação mal realizada por parte dos
bombeiros, durante o combate ao incêndio ou no rescaldo, poderá agravar as
condições do sinistro, reignindo os materiais combustíveis.
Incandescências atingem altas temperaturas e estão
presentes na tanto na fase inicial quanto na final de incêndios e nessa fase,
oferecem risco de re-ignição dos materiais.
Um cigarro sobre uma poltrona ou
colchão inicia uma combustão lenta que pode resultar em uma combustão viva e, conseqüentemente,
em um incêndio.
A velocidade da reação da combustão
lenta depende de muitos fatores, mas é geralmente da ordem de 10-2 a 10-3 cm/s ou aproximadamente
1 a 5
mm/minuto.
Altos níveis de monóxido de carbono
(CO) estão associados a esses tipos de combustão. Mais de 10% da massa
combustível é convertida em CO, o qual necessita de ar para continuar reagindo,
embora a quantidade requerida seja pouca.
Em um incêndio, essa combustão, apesar
de ser muito lenta, é potencialmente mortal devido à produção de monóxido de
carbono.
A incandescência geralmente ocorre em:
1. combustíveis sólidos porosos, como
fumos, carvão, ou,
ainda, a espuma ou algodão de colchões;
2. em combinação de combustíveis, como
a mistura de tecidos com algodão ou polímeros – como o caso de sofás;
3. em locais de descarga de
combustíveis sólidos já queimados – como o caso de lixões ou carvoaria.
É importante não confundir combustão lenta com reação lenta.
Em uma reação lenta, ocorrerá uma
deterioração gradual e quase imperceptível do material, como o caso da
oxidação, não havendo liberação significativa de calor. Um exemplo clássico de oxidação
é o ferro em processo de ferrugem (Figura 17). O oxigênio da atmosfera combina
com as propriedades do ferro e gradualmente, retira as ligações que mantêm os
átomos de ferro juntos. Entretanto, não há liberação de calor suficiente para
classificá-lo como combustão.
A combustão lenta está presente no final dos incêndios
e é potencialmente letal devido à produção de monóxido de carbono. Em todos os
casos há produção de luz, calor e fumaça.
Figura 17 - Material sob ação da ferrugem, que caracteriza uma reação lenta
Combustão espontânea
Em todas as formas de combustão apresentadas até agora, fez-se
referência à presença de uma fonte externa de calor para dar início a
um processo de queima. Entretanto, é importante abordar um tipo de
combustão que foge a essa regra, de rara ocorrência, que não necessita
de uma fonte externa de calor. É o caso da combustão espontânea.
A combustão espontânea é um processo de combustão que começa,
geralmente, com uma lenta oxidação do combustível exposto ao ar. Pode
ocorrer com materiais como o fósforo branco, amontoados de algodão ou em
curtumes (tratamentos de peles de animais).
Nesses
dois últimos, há uma decomposição orgânica do material e a reação
química é relativamente lenta, o que torna difícil sua observação. Pode,
em alguns casos, assemelhar-se à incandescência, o que faz com que uma
combustão dessa natureza seja percebida apenas quando a situação já é
grave.
A taxa de liberação de energia pela reação química compete com a habilidade do combustível de dissipar calor para o ar ambiente.
Isso
quer dizer que, se a reação não libera calor suficientemente para o
ambiente, sua temperatura irá aumentar e, conseqüentemente, a velocidade
da reação química também aumentará.
Esse processo tanto pode resultar em uma combustão viva (uma
chama), quanto em uma combustão lenta (incandescência). Todo o processo
pode levar horas ou dias e necessita de um conjunto crítico de
condições ambientais ou de aquecimento para ser viável.
Até a atualidade não há estudos conclusivos sobre como se processa esse tipo de combustão.
O estudo da vela
No
século XIX, o cientista Michael Faraday já sugeria o estudo da história
química da vela, afirmando que não existia melhor exemplo para se
compreender o fogo, senão pelo comportamento de uma simples vela e que
praticamente todas as leis do universo passam por esse processo.
Figura 18 - A combustão de uma vela
Até hoje, o estudo da vela é um dos meios mais didáticos para a compreensão do comportamento do fogo.
Em uma
vela, o calor inicial da chama no pavio faz com que a cera, em sua
superfície, derreta, encharcando o pavio, o qual, por sua vez, conduz a
cera derretida por ação capilar (semelhantemente ao que ocorre com as
raízes de uma árvore ao puxar água do solo) à zona de reação, onde o
calor da chama fará com que a cera derretida evapore e se misture ao ar,
produzindo luz e mais calor.
É
importante então que se compreenda que o principal elemento em queima na
vela não é o pavio, mas os gases combustíveis provenientes da cera em
reação com o ar, pois o pavio só queima quando atinge a zona de reação.
Se uma tela metálica (desde que não seja de alumínio, por causa
da sua temperatura de fusão) atravessa a chama de uma vela, nota-se que
a chama permanece em volta do pavio, provando que a chama se processa
ao redor dele e que há uma zona de reação onde os gases combustíveis
provenientes da cera estarão se misturando ao oxigênio.
A função da tela nesse exercício será de dissipar energia sem apagar a chama.
Figura 19 – Esquema da chama de uma vela quando atravessada por uma tela metálica.
Figura 20 - Chama de uma vela sob uma tela metálica
A zona de reação é a área em que o combustível (na forma gasosa) irá se misturar – difundir – ao oxigênio.
Figura 21 - Zona de reação da chama de uma vela
A figura mostra a combustão ao redor do pavio, provando que a combustão é uma reação gasosa.
A chama é uma reação totalmente gasosa.
É possível observar que quando a ponta do pavio torna-se luminescente
é sinal de que ele está sendo consumido, e que, conseqüentemente, está
servindo de combustível, como é possível observar na Figura 22, a figura
mostra a zona de reação, que é a área onde os gases – combustível e
oxigênio – são misturados, produzindo a queima.
A ponta do pavio, ao ser dobrada, entra na zona de reação, apresentando luminescência. Isso significa que está queimando.
Figura 22 - Chama de uma vela com pavio dobrado
Considerando
que a cera derretida é conduzida pelo pavio, é correto também afirmar
que o tamanho da chama será influenciado por seu tamanho e espessura.
Quanto mais longo e espesso for o pavio, mais cera derretida e,
portanto, mais combustível será capaz de conduzir à zona de reação.
Na parte mais alta da chama, nota-se uma área amarela, onde a luz é mais intensa. Nela encontra-se a chama difusa, que
é o tipo de chama no qual o combustível e o oxigênio são transportados
(difundidos) de lados opostos da zona de reação (ver Figura 21), em
decorrência da diferença de concentração entre os gases (combustível e
comburente).
Pela Lei de Fick, difusão é o processo de movimentação de componentes
químicos e outras estruturas moleculares em uma mistura – normalmente
de gases – que se dá de uma zona alta para uma de baixa concentração na
mistura.
Um
exemplo disso é o que ocorre com uma gota de tinta dissolvendo-se em um
copo com água. A tinta irá se difundir com a água até que todo o volume
do copo esteja colorido. O mesmo processo ocorre entre o oxigênio e os
gases combustíveis na chama. O oxigênio no ar irá se mover até a zona de
reação, a uma gravidade zero. O combustível é transportado para dentro
da zona de reação, do lado oposto, pelo mesmo processo e ambos se
misturam pela difusão.
Chama difusa é
um processo de combustão, no qual o gás combustível e o oxigênio são
transportados para uma zona de reação, devido a uma diferença de
concentração.
Chamas difusas representam a categoria predominante de chamas,
principalmente nos incêndios. É o caso das chamas de incêndio
florestal, da chama em um palito de fósforo ou, ainda, da ignição da
fumaça em um incêndio estrutural.
Figura 23 - Exemplos de chama difusa
(incêndio florestal, chama de um fósforo e incêndio urbano)
Na base da chama, há uma parte de
coloração azulada.
Nesta área, os gases produzidos pela
cera estão reagindo com o oxigênio em uma melhor mistura, o que produz uma
queima sem resíduo, denominada de chama do tipo pré-misturada, na qual o
combustível e o comburente são misturados antes de atingirem a zona de reação,
como é possível notar na Figura 18.
A cor emitida pela chama é determinada,
em parte, pelos elementos contidos na reação. É a cor emitida pelos
hidrocarbonetos.
Exemplo: quando misturada com o ar, uma
solda de oxi-acetileno bem ajustada gera uma chama de um tom azul claro.
A chama é mais visível quando carbonos
e outros sólidos ou líquidos, resultantes da combustão
incompleta, são levados às áreas de altas temperaturas e incandescem indo desde
o tom vermelho, até o laranja, amarelo
ou branco, dependendo de sua temperatura (ver Tabela 4).
A chama pré-misturada é
um tipo de chama no qual o gás combustível e o ar (oxigênio) são
misturados antes que a ignição ocorra, facilitando a queima.
Equipamentos como fogão ou aparelho de oxiacetileno são projetados para
trabalharem com chama pré-misturada, produzindo uma queima limpa.
Sua combustão é caracterizada por chamas de cor azul.
No caso dos fogões, há uma entrada de ar em seu gabinete que
permite a mistura entre o gás liquefeito de petróleo (GLP) e o ar antes
de queimar na boca. No caso do maçarico, há a mistura entre o oxigênio e
o acetileno no punho do aparelho, fornecendo ao bico a mistura já
pronta e proporcionando uma queima de altíssima temperatura. Uma máquina
de combustão interna à gasolina (com ignição por centelha) ou uma
máquina a diesel (com ignição por compressão) também trabalham com
chamas pré-misturadas.
Figura 24 - Chama de um fogão
Chama pré-misturada é
o processo de queima do combustível já misturado ao ar antes de atingir
a fonte de calor e alcançar a ignição. Geralmente, possui chama de cor
azul.
A chama
pré-misturada aparece na ignição de sólidos e líquidos, no princípio
das chamas difusas, como é possível observar na Figura 25.
Na foto abaixo é possível observar a coloração azulada na base da chama, caracterizando a parte que é pré-misturada.
Figura 25 – Presença da chama pré-misturada na queima da madeira
A chama pré-misturada produz uma queima limpa, ou seja, sem resíduos.
As chamas pré-misturadas têm maior poder calorífico que as chamas difusas (ver Tabela 1).
Voltando
à experiência da tela metálica atravessando a chama, é possível notar
que, se a tela aproximar-se da base da chama, há liberação de uma fumaça
branca. Se for aproximada uma chama de fósforo dessa fumaça, é possível
observar que ela entra em ignição por causa dos íons liberados durante a
reação em cadeia. Por isso, a fumaça branca é combustível.
Figura 26 - Queima da fumaça branca em uma vela
O mesmo
fenômeno pode ser observado ao se extinguir a chama de uma vela. Ao
aproximar a fumaça que ainda está sendo liberada de uma nova chama,
ocorrerá o acendimento do pavio ainda que a chama não o tenha tocado,
demonstrando que a fumaça é combustível.
À
medida que se aproxima a tela da parte superior da chama, nota-se que a
fumaça torna-se escura. O mesmo fósforo aceso aproximado dessa fumaça se
apagará. Isso porque, nessa área, os gases já foram mais queimados que
na área mais baixa (onde a fumaça é branca).
Com a tela próxima à base da chama, a fumaça branca entra em ignição quando se aproxima de um fósforo aceso.
Sua
coloração escura é decorrente da presença de mais resíduos – fuligem – e
dióxido de carbono, que dificultam a queima do palito de fósforo,
apagando-o por abafamento.
A chama do palito de fósforo é extinta ao se aproximar da
fumaça escura.
Figura 27 - Fumaça escura em uma vela
Nos incêndios, ocorre liberação tanto
de fumaça branca quanto de fumaça escura. É natural que ambas se misturem,
formando uma fumaça de tom cinzento.
Cálculo da altura de chama
Um bom modo de se estimar a altura da
chama pode ser obtido por meio da
expressão:
De forma prática, é possível estimar a altura
da chama para alguns materiais, quando da ocorrência
de um incêndio, como mostrado na Tabela 5:
Em casos reais, pode-se estimar a taxa
de liberação da combustão avaliando-se a altura da chama, dados que podem ser obtidos
tanto pela equação anterior, quanto pela Tabela 5.
Explosão
Existe combustão que ocorre em uma
velocidade de queima muito alta, geralmente com a presença
de chamas não sustentáveis (de efeito passageiro), porém muito perigosas.
Uma explosão é o resultado de uma
expansão repentina e violenta de um combustível gasoso, em decorrência da
ignição da mistura entre um gás (ou vapor de gás) e o oxigênio presente no ar.
Essa ignição se dá em alta velocidade,
gerando uma onda de choque que se desloca em todas as direções, de forma
radial.
Fig 28 – Exemplo de uma explosão
Uma explosão por combustão é uma
explosão química. É o caso da maioria das explosões ocorridas
em incêndios, como as decorrentes do vazamento de GLP ou da fumaça.
Como visto anteriormente, a fumaça possui,
em seu interior, gases combustíveis (provenientes dos íons resultantes da
reação em cadeia) que, ao se acumularem em um ambiente pouco ventilado, como no
caso dos incêndios estruturais, podem sofrer uma ignição de forma súbita com a
entrada de oxigênio. Essa explosão de fumaça é conhecida como backdraft ou
backdraught e será abordada mais adiante.
Uma explosão pode ser classificada como
uma detonação ou deflagração. Uma detonação ocorre quando o
deslocamento do ar tem uma velocidade superior a 340 metros/segundo. Abaixo
disso, há uma deflagração. Explosões de fumaça ou do GLP no
ambiente são deflagrações e não detonações, posto que a velocidade do ar é
menor que 340 m/s, ao contrário do que ocorre com a maioria dos artefatos explosivos
(bombas).
É importante lembrar que, mesmo estando
abaixo de 340 m/s, explosões por deflagração possuem uma onda de choque capaz
de afetar a estrutura da edificação, levando à morte quem estiver no ambiente.
Sempre que houver uma mistura de gás
combustível com o ar haverá o perigo de uma explosão. Por meio de análises
químicas e testes científicos, determinou-se que os gases só podem alcançar a ignição
quando atingem determinadas concentrações, variáveis de substância para
substância.
Se não houver quantidade suficiente de
gás combustível, a mistura será pobre e não haverá queima.
Da mesma forma, se a concentração do gás for muito alta a mistura é denominada
“muito rica” e também não irá deflagrar.
Quando a mistura gás-ar cai em uma
faixa na qual pode alcançar a ignição, diz-se que está dentro dos limites de explosividade
ou limites inflamáveis.
Conforme se nota na Tabela 6 e na
Figura 29, os níveis de um gás em um ambiente são medidos em porcentagem do
volume.
Conseqüentemente, haverá explosão
quando houver uma proporcionalidade na mistura entre os dois elementos.
Quanto mais alta for a presença de um
só deles, menor o perigo de explosão.
A ocorrência de uma explosão em
um ambiente depende da faixa
de inflamabilidade da mistura do ar com o gás, que varia de substância para substância.
Os limites da faixa de inflamabilidade
(ou explosividade) são geralmente registrados a uma pressão de 1 atmosfera ao
nível do mar e a uma temperatura de 21 ºC.
Se houver aumento de temperatura e de
pressão, ocorrerá a redução do limite inferior e aumento do limite superior em
torno de 1%, aumentando a faixa de inflamabilidade e, conseqüentemente, o risco
de explosão. Em algumas misturas, o limite superior pode atingir 100% em altas
temperaturas. A diminuição da temperatura e da pressão fará o efeito inverso.
Essa variação da faixa de
inflamabilidade sob condições anormais denota a importância de os bombeiros
adotarem cuidados adicionais ao se depararem com emergências envolvendo gases inflamáveis
armazenados em cilindros, com ou sem vazamento. Uma medida emergencial é
resfriar os recipientes, a fim de manter a sua temperatura baixa.
Fig 29 - Quadro comparativo da faixa de
inflamabilidade de gases comuns
Como se pode notar na Figura 29, bastam
somente 13% de monóxido
de carbono no ambiente e calor para ocorrer uma explosão de fumaça.
Isso mostra o quanto a fumaça, composta principalmente por CO, pode ser
explosiva em um ambiente com uma faixa de inflamabilidade muito maior
que a do GLP e quase tão alta quanto a do acetileno e do hidrogênio,
considerados gases muito explosivos. Daí a importância do cuidado dos
bombeiros na abordagem de incêndios estruturais, principalmente
enclausurados.
A
faixa de inflamabilidade do monóxido de carbono presente na fumaça é
muito maior que a do GLP e quase tão grande quanto a do acetileno e do
hidrogênio.
As condições do ambiente que comporta o material combustível influenciarão diretamente o risco de explosão.
Um exemplo é o tanque subterrâneo de combustível de um posto de gasolina.
Se
estiver cheio, não haverá risco de explosão, pois a quantidade de vapor
do gás causará uma mistura muito rica. Entretanto, se o tanque estiver
com pouco combustível (quase vazio), este irá secar gradualmente,
liberando gás no ambiente e atingindo uma mistura ideal com o ar dentro
do recipiente, atingindo sua faixa de inflamabilidade.
Basta
que uma fonte de calor entre em contato com essa mistura para que ocorra
uma explosão. Como o abastecimento dos tanques se dá quando estes estão
vazios ou quase vazios, o perigo de uma explosão é maior quando o
caminhão tanque está abastecendo os reservatórios do posto de gasolina. A
energia liberada por um cigarro aceso, uma lanterna, uma campainha ou,
ainda, a eletricidade estática é suficiente para deflagrar uma explosão
em tais condições.
A
eletricidade estática é obtida pela fricção (ainda que rápida) ou choque
entre corpos de diferentes materiais, gerando uma diferença de
potencial nas cargas elétricas devido à separação das superfícies em
nível molecular.
Elétrons
de uma substância são tomados por outra e, quando quantidade
suficiente é coletada, tentam eqüalizar o número de elétrons entre os
corpos, pulando o espaço na forma de descarga elétrica.
Essa pequena, porém poderosa forma de energia pode atingir temperatura superior a 1000 ºC.
Apesar da alta geração de calor, a dissipação é muito rápida, não
oferecendo à maioria dos combustíveis comuns (madeira, papel, tecido)
condições de inflamação, ao contrário do que ocorre com os gases
provenientes dos líquidos inflamáveis armazenados, como é o caso dos reservatórios de postos de gasolina e distribuidoras.
Por
esse motivo, sistemas eficientes de aterramento e medidas rígidas de
segurança devem ser adotados por ocasião dos abastecimentos de
combustível nos tanques.
A
ignição de uma mistura de gás-ar é explosiva por causa de sua grande
área superficial exposta ao calor, ou seja, seu coeficiente
superfície-massa é muito alto.
As
medidas de ação específicas para o combate a incêndio em ocorrências
dessa natureza, bem como em outras que apresentem riscos especiais,
devem ser adotadas conforme os Procedimentos Operacionais Padrão (POP)
do CBMDF, específicos para os diversos tipos de ocorrência, os quais
devem ser de conhecimento das guarnições de bombeiros.
Existem
deflagrações que não são produzidas por gases inflamáveis, mas, sim,
por poeiras inflamáveis, que também podem causar explosões, como o que
ocorre com o alumínio ou com componentes orgânicos, tais como açúcar,
leite em pó, grãos, plásticos, pesticidas, produtos farmacêuticos,
serragem, etc.
Uma
explosão dessa natureza é o produto da combustão explosiva entre a
mistura de poeira combustível com o ar, a qual, ao encontrar alguma
fonte de calor, vem a inflamar-se de forma rápida, atingindo todo o
ambiente. A faixa de explosividade, nesse caso, é difícil de
estabelecer e depende de diversos fatores, tais como:
• tamanho das partículas em suspensão – quanto menor o tamanho das partículas, maior a explosividade por causa da sua relação superfície versus massa;
• umidade – quanto menos úmida a mistura, maior o risco de explosão;
• misturas híbridas – diferentes materiais juntos tendem a aumentar a explosividade da mistura, requerendo menos energia para deflagrá-la;
• tempo em suspensão – quanto mais tempo a poeira permanecer em suspensão no ambiente, maior será o risco de explosão;
• concentração de oxigênio – quanto maior a concentração de oxigênio na mistura, mais facilmente se dará a reação de combustão.
Em um
aspecto prático, uma boa medição do risco de um ambiente cheio de poeira
inflamável em suspensão é estender o próprio braço. Se não for possível
enxergar sua mão, é sinal de que a situação deve ser considerada como
explosiva.
Deve-se checar também se há deposição de pó nas superfícies – até 1 mm de poeira sobre a superfície é tolerado. Acima disso, deve-se dispensar atenção e cuidados maiores.
Se
em um ambiente com alta concentração de poeira combustível não for
possível enxergar as mãos quando os braços estão estendidos, o risco de
explosão é muito grande.
De forma geral, a temperatura para deflagrar explosão em mistura de ar e poeira gira em torno de 330 a 400 ºC,
sendo bem maior que em mistura de ar e gás. Essa temperatura pode ser
facilmente encontrada em superfícies quentes de maquinário industrial ou
de fornos, que é o caso de silos.
Os cuidados dos bombeiros em ambientes
com mistura de ar e gás, ou de ar e poeira combustível, são geralmente de
prevenção à explosão. Uma vez ocorrida, pouco se pode fazer. Na situação em que
a guarnição chega ao local depois da explosão, devem ser considerados os riscos
de um colapso da estrutura.
As ações a serem adotadas pelos
bombeiros devem seguir o POP específico para ocorrências em ambientes com
poeiras combustíveis em suspensão. Em linhas gerais, a guarnição de socorro deve:
• evacuar e isolar a área;
• umedecer o ambiente com pulsos curtos de jato atomizado, com
cuidado para não mover a poeira;
• desligar maquinários e equipamentos elétricos energizados.
BLEVE – Boiling liquid expanding vapor explosion
É o tipo de explosão que ocorre em
recipientes que comportam líquidos, em decorrência da pressão exercida em seus
lados, quando aquecido, e ferve, excedendo a capacidade do recipiente de
suportar a pressão resultante.
Ainda não há um termo em português para
descrever esse fenômeno, que, geralmente, ocorre
quando o calor é aplicado ao recipiente, levando o líquido à fervura. A pressão
do vapor irá aumentar até atingir um ponto em que o recipiente não suportará
mais, causando uma fissura em sua estrutura, com a liberação do vapor de forma violenta.
A Figura 30 mostra o desenvolvimento
típico de um BLEVE.
As paredes do tanque são resfriadas inicialmente pelo líquido que está dentro dele (Figura 30a).
Este efeito de resfriamento desaparece à medida que o líquido
diminui em decorrência da sua evaporação (Figura 30b).
Quando
o nível do líquido está abaixo da fonte de calor (Figura 30c), a
parede do recipiente torna-se enfraquecida pela ação do calor e do
aumento da pressão interna, forçando a estrutura e levando à ruptura
(Figura 30c).
Figura 30 - Desenvolvimento de um BLEVE
O BLEVE pode ocorrer também quando existe um dano na estrutura
do cilindro (ponto fraco), submetido a um aumento da pressão interna,
ainda que o líquido não tenha ficado abaixo do ponto de contato com a
fonte de calor.
O
resultado de um BLEVE pode ser desde um escape mínimo do vapor pela
ruptura (até a equalização da pressão interna do cilindro), até uma
explosão (que libera um grande onde de impacto e calor).
Para se
compreender melhor esse fenômeno, basta lembrar a pipoca: o líquido
dentro da casca dura do milho é aquecido, ferve e exerce uma pressão
contra esta até que se rompa, resultando em um núcleo cozido que escapou
da sua casca enquanto a pressão interna se igualava à do ambiente.
Esse
fenômeno pode ocorrer em recipientes que armazenam ou transportam
líquidos ou gás, como os caminhões tanque (ver Figura 31) ou
reservatórios quando são aquecidos.
As
ações a serem adotadas pelos bombeiros devem seguir o Procedimento
Operacional Padrão (POP) específico para ocorrências envolvendo tanque.
Em linhas gerais, a guarnição de socorro deve:
• resfriar o tanque (à distância);
• isolar a área;
• controlar o vazamento.
Figura 31 – Tipo de recipiente sujeito
a BLEVE
Ocorrências envolvendo caminhões tanque ou tanques
de armazenagem devem ser consideradas como risco de explosão, tanto em relação
ao isolamento da área quanto à necessidade de resfriar o recipiente, por causa
da possibilidade da ocorrência de um BLEVE.
Mesmo que o líquido no recipiente não
seja inflamável, a sua ruptura pode ser violenta, resultando em uma força tal
que lance fragmentos a grandes distâncias, acompanhado de uma forte onda de choque.
Se o líquido for inflamável, a fissura
no recipiente irá exibir uma bola de fogo que piora as condições da ocorrência.
Se o líquido for um tipo de produto perigoso, outras tantas variáveis
adicionais devem ser observadas, como o cuidado com rede pluvial, contaminação
pelo ar, etc. Nesse caso, devem ser adotados os procedimentos relativos a produtos
perigosos.
O BLEVE pode ocorrer tanto em recipientes que contenham líquidos inflamáveis, quanto com líquidos não inflamáveis.
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