quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Combustão - Cor associada a algumas temperaturas em incêndios - Elementos do fogo (triângulo e tetraedro do fogo - fontes de calor - ponto de fulgor / ignição / auto-ignição / temperatura / comburente / oxigênio / combustível orgânicos e inorgânicos / reação em cadeia / oxigênio / hidroxila / hidrogênio / átomos) - Classificação da combustão - Quanto à liberação de produtos (incompleta / completa / viva / chama difusa) - Quanto à velocidade da combustão - Combustão espontânea - O estudo da vela (chama difusa) - Explosão ( exemplo / backdraft / backdraught / detonação - deflagação - (inflamabilidade de algumas substâncias)


Combustão

Antes de se tratar da combustão propriamente dita, é preciso lembrar o que ocorre antes que uma substância queime, ou seja, entre em combustão.
Tudo o que existe no universo é formado de matéria, a qual pode ser definida, de uma forma simplificada, como algo que ocupa espaço e é composta por moléculas que, por sua vez, são constituídas por átomos de um ou mais elementos em uma combinação química.
Como a matéria interage entre si, substâncias são criadas, transformadas e destruídas. A matéria, porém, não pode ser destruída, apenas transformada.
A maior parte do que existe no universo é composta por moléculas que são normalmente estáveis, mantendo sua forma, a menos que algo as faça mudar de condição.
Se uma fonte de calor – que pode ser um fósforo aceso, uma fagulha ou um corpo aquecido – aproxima-se de uma substância qualquer (matéria), inicia-se aí uma reação química entre esta e o oxigênio presente no ar, com um aumento gradual de temperatura e de liberação de calor, fazendo com que as moléculas, antes estáveis, sejam quebradas.
A pirólise, também conhecida como decomposição térmica, é o processo de quebra das moléculas que compõem uma substância em outras moléculas ou átomos, em conseqüência da ação do calor.
A maioria dos combustíveis sólidos e líquidos passa primeiramente para o estado gasoso antes de sua ignição, o que vale dizer que todos estarão na fase gasosa para sofrer combustão.
Os gases combustíveis desprendidos durante a pirólise  influenciam sobremaneira o comportamento da queima, por causa das moléculas e átomos que os compõem e que reagem com o oxigênio durante toda a queima, permanecendo próximo à substância decomposta.
Figura 4 - Desenho esquemático de uma situação antes da generalização do incêndio
A energia de ativação é a energia necessária para iniciar uma reação química. No caso deste estudo, é a energia mínima para fazer com que o material combustível entre em pirólise.
Essa quantidade de energia varia conforme o material combustível. Em via de regra, quanto melhor a mistura (combinação) entre o combustível e o ar, menor será a energia necessária para iniciar a combustão, ou seja, mais facilmente ocorrerá a queima.
A figura 4 mostra uma cena típica de incêndio, no qual os móveis ainda não atingidos pelas chamas começam a desprender gases combustíveis pelo aquecimento do ambiente. Isso significa que estão sofrendo pirólise.
Se não houver interferência, em pouco tempo, os móveis se inflamam, fazendo com que todo o ambiente fique tomado pelas chamas.
Pirólise é a decomposição química de uma substância mediante a ação do calor.
À medida que os gases desprendidos pela pirólise se inflamam, gerando luz (chama) e calor, obtém-se o fogo (combustão).
Elementos do fogo
Durante muito tempo acreditou-se que, para haver fogo, eram necessários três elementos: o oxigênio, também chamado de comburente; o calor, responsável por fornecer energia à mistura; e o combustível, constituindo-se assim o triângulo do fogo (Figura 5).

 Figura 5 - Triângulo do fogo
Combustão pode ser definida, então, como a reação química envolvendo uma substância combustível e um agente oxidante, normalmente o oxigênio do ar, produzindo luz e energia. Antes de ocorrer a combustão, as substâncias (sólidas e líquidas) sofrem pirólise, por causa da energia de ativação no material combustível.
Nos últimos anos, estudos científicos mostraram que existe uma reação química contínua entre o combustível e o comburente, a qual libera mais calor para a reação e mantém a combustão em um processo sustentável, que é a reação em cadeia.
Como será abordado mais adiante, essa reação é responsável por fornecer continuamente o calor necessário e os gases combustíveis que permitem o desenvolvimento da combustão. Alguns autores passaram, então, a admitir a inclusão desse quarto elemento e, consequentemente, a figura de um tetraedro (Figura 6) como a forma mais precisa para o estudo do processo de combustão.
Figura 6 - Tetraedro do fogo
É possível observar a existência de quatro triângulos. As faces da pirâmide representam o oxigênio, combustível e o calor. O triângulo da base representa a reação em cadeia, sendo a interface entre os outros três elementos.

Tetraedro do fogo é a combinação do combustível com o oxigênio, na presença de uma fonte de calor, em uma reação química em cadeia, liberando energia em forma de luz e mais calor, além de outros produtos químicos.


Na análise de ambas as figuras, é possível observar que, quando se trata de elemento propriamente dito, existem no triângulo ou no tetraedro do fogo: o comburente, o combustível e o calor. A reação em cadeia é um processo que une estes elementos, dando sustentabilidade à reação e não um elemento em si.
A Figura 7 é capaz de representar este processo.

 Figura 7 – Representação do fogo
É importante lembrar que, independente da figura que o representa, o fogo é extinto quando um dos seus elementos é retirado ou quando a reação que os envolve é interrompida.
Saber controlá-los é fundamental para o êxito dos bombeiros no combate ao incêndio.
O calor, antigamente conhecido como agente ígneo, é o componente energético do fogo e será o elemento responsável pelo início da combustão.
É o elemento que causa a vaporização do combustível (sólido ou líquido), sendo responsável por manter a temperatura da reação, que, durante a combustão, continuará havendo a liberação de mais calor. Como dito anteriormente, na maior parte dos combustíveis há uma mudança de estado para o gasoso antes de inflamar-se.
Nos combustíveis gasosos, isso não ocorre, pois já estão em condições de alcançarem a ignição.
Uma fonte de calor pode ser qualquer elemento que faça com que o combustível sólido ou líquido desprenda gases combustíveis e venha a se inflamar. Na prática, pode ser uma chama, uma fagulha (faísca ou centelha) ou ainda uma superfície aquecida.
A superfície aquecida, a qual pode ser obtida por meio de um forno de fogão que acabou de ser utilizado, de equipamento eletroeletrônico com defeito ou, ainda, de maquinário industrial que dissipe grande quantidade de calor, costuma ser menosprezada pelos bombeiros em ocorrências envolvendo vazamento de gás ou ainda durante o combate a incêndio, contudo, tal esquecimento pode causar acidentes.
Portanto, é importante lembrar que o risco de uma fonte de
calor não se resume à chama. A temperatura atingida por uma superfície aquecida é suficientemente capaz de iniciar um incêndio ou deflagrar uma explosão em muitos materiais combustíveis.
Da mesma forma, se um combustível líquido armazenado em tanque for aquecido, o calor distribuir-se-á por todo o volume de combustível. Quando estiver totalmente aquecido e houver a impossibilidade de dissipação do calor para o ambiente, ocorrerá um aumento de temperatura tal capaz de fazer com que o líquido entre em ebulição e atinja o ponto de auto-ignição.
A existência de superfícies aquecidas em um ambiente com vazamento de gás pode deflagrar uma explosão no ambiente, mesmo sem a presença de chamas.
A Tabela 1 apresenta as temperaturas estimadas das principais fontes de calor iniciadoras de incêndio.
Em outras palavras, pode-se dizer que, no tetraedro do fogo, o calor é responsável por:
produzir os vapores combustíveis em materiais sólidos e líquidos (pirólise);
causar a ignição do material combustível (sólido, líquido ou gasoso);
promover o crescimento e propagação das chamas, pela manutenção de um ciclo contínuo de produção de vapor de combustível e de energia para ignição desse material.
Uma fonte de calor pode ser obtida por uma fagulha, pelo contato direto da chama ou pelo aumento da temperatura ambiente.
No processo de combustão, os materiais combustíveis atingem pontos diferentes de temperatura à medida que se vão aquecendo, ou seja, à medida que sofrem pirólise.
Esses são conhecidos como pontos de temperatura.
O ponto de fulgor, é atingido quando os vapores liberados pelo material combustível sólido ou líquido entram em ignição em contato com uma fonte externa de calor, porém ao retirá-la, as chamas não se mantêm. Isso ocorre, porque a quantidade de vapores combustíveis liberada é muito pequena.
O ponto de ignição, é atingido quando os vapores liberados pelo material combustível entram em ignição em contato com uma fonte externa de calor, mantendo a chama mesmo com a retirada da fonte. Reações sustentáveis de combustão ocorrem quando calor suficiente, proveniente de uma reação exotérmica (reação que libera calor), é gerado nas imediações do combustível, produzindo vapores em concentração suficiente que permita o desenvolvimento auto-sustentável da combustão.
A auto-ignição de um determinado material combustível ocorre quando, em condições atmosféricas normais, este material inflama-se espontaneamente, sem a presença de uma fonte externa de calor, tais como, chama ou fagulha. Sua temperatura pode coincidir ou não com a temperatura do ponto de ignição do mesmo material.
No ponto de ignição, a chama se mantém quando a fonte de calor inicial se afasta. No ponto de fulgor, a chama acende e se apaga quando a fonte de calor se aproxima e se afasta, respectivamente.
Um material combustível é considerado inflamável quando seu ponto de fulgor é menor que 80 °C, sendo sólido, líquido ou gasoso.
A Tabela 2 apresenta a temperatura de ignição de materiais
comumente presentes em incêndio como madeira, carpete, gesso e borracha.
No ponto de auto-ignição, o combustível sofre um aquecimento gradual até se inflamar sem a presença de uma fonte direta de calor.
O comburente é a substância que reage com os gases combustíveis liberados na pirólise, também conhecida como agente oxidante. Na maioria das vezes, o comburente será o oxigênio, elemento presente na atmosfera terrestre.
Na concentração normalmente presente no ar, em torno de 21%, o oxigênio permite que ocorra a livre queima das substâncias, com a presença de chamas. Se a concentração de oxigênio na reação diminuir, as chamas sofrerão diminuição ou total extinção.
Na medida em que a combustão se processa, a quantidade do comburente em um ambiente é determinante para a propagação ou para a extinção do fogo.
Se houver uma diminuição do oxigênio, ainda que por ação do incêndio, a combustão será mais lenta. Se, ao contrário, houver abundância de oxigênio, a reação química será acelerada, intensificando as chamas.
Na concentração de 15% de oxigênio no ambiente, ocorre a extinção das chamas. Entretanto, o ambiente continua bastante aquecido, bastando apenas a inserção de ar para que se inflamem novamente. Isso pode ocorrer com a entrada dos bombeiros no local para o combate.
Em um incêndio estrutural, a condição do ambiente pouco ventilado devido à delimitação das paredes e do teto exigirá maior cuidado e atenção por parte dos bombeiros, pois a quantidade de ar disponível para a queima é limitada.
Existem substâncias que também atuam como comburentes, tais como: o cloro (Cl2), o cloreto de sódio (NaCl), o clorito de sódio (NaClO2) e o clorato de sódio (NaClO3), o que exige muito cuidado em ambientes onde eles se encontram.
O oxigênio intensifica a combustão.
Também pode haver ocorrência de fogo em atmosferas com ausência de oxigênio, quando os combustíveis comuns são misturados com oxidantes químicos, os quais conseguem liberar oxigênio com facilidade, como o fertilizante nitrato de amônio (NH4NO3), nitrato de potássio (KNO3) e peróxido de hidrogênio (H2O2).
Atmosferas enriquecidas com oxigênio, como o caso de indústrias, hospitais e locais com utilização de oxi-acetileno (maçaricos) ou de aparelhos de oxigenoterapia podem apresentar, no caso de incêndio, velocidade e intensidade de queima superior ao que comumente ocorre, o que exigirá dos bombeiros também maior cuidado e atenção.
Os óleos, na presença de altos níveis de oxigênio, sofrem ignição espontânea, ou seja, entram em ignição sem a presença de uma fonte de calor. Por esse motivo, canos, dutos, instrumentos de medição e engates que transportam oxigênio devem possuir aviso de advertência de “não usar óleo”.
O Nomex(R), material utilizado nos equipamentos de proteção individual de roupas de aproximação, também se inflama em contato com altos níveis de concentração de oxigênio independente de uma fonte de calor. Por isso, os bombeiros devem ter mais cautela na abordagem de ocorrências com atmosferas enriquecidas de oxigênio, como o caso de indústrias ou de hospitais, independente da presença de fonte de calor.
O combustível é o elemento definido como o campo de propagação do fogo. É todo material capaz de queimar quando aquecido e mantém a combustão.
Os combustíveis podem ser classificados conforme o seu estado físico em sólido, líquido ou gasoso. São exemplos:
sólido: madeira, papel, tecido, borracha, etc;
líquido: diesel, gasolina, álcool, querosene, etc;
gasoso: G.L.P. (gás liquefeito de petróleo), acetileno, gás natural, etc.
A maior parte dos combustíveis sólidos passa para o estado gasoso antes de alcançar a ignição, mediante a liberação dos gases pela pirólise. Exemplos de exceção dessa regra são: o enxofre, os metais alcalinos – potássio, cálcio – a cânfora e a naftalina, que queimam diretamente em sua forma sólida.
Os combustíveis líquidos necessitam sofrer vaporização ou dissolução em pequenas gotas (atomização) para que se inflamem. É possível observar que, na queima de líquido, a chama ocorre a certa distância da superfície. Essa regra é válida para os líquidos combustíveis ou inflamáveis, quando aproximados de uma fonte de calor externa.
Tal fenômeno pode ser observado ao atear fogo em um pedaço de madeira, que é um combustível sólido. É possível notar que as chamas se desenvolvem a partir de uma determinada altura, não tocando sua superfície, o que significa que estão sendo queimados os gases liberados por ele (ver Figura 8).
Figura 8 – Chama envolvendo um pedaço de madeira
O estado gasoso é o estado ideal para as queimas, essencialmente necessário para a combustão. Portanto, a maioria dos combustíveis sólidos e líquidos passa para o estado gasoso antes de se inflamar.
Chama-se de estado normal dos combustíveis aquele no qual o material existe sob condições normais de temperatura e pressão, ou seja, 21ºC e 1 atmosfera.
Condições acima desses valores são comuns em incêndios e fazem com que os combustíveis entrem em pirólise e, continuando a reação, atinjam o seu ponto de ignição, propagando o incêndio.
A pressão e a temperatura também influem diretamente no estado físico do combustível, bem como no desenvolvimento da combustão. Exemplo prático para se evitar tal ocorrência consiste nos bombeiros manterem um líquido armazenado ou derramado resfriado o suficiente para evitar sua evaporação, prevenindo a pirólise e a combustão desse material.
A mudança do estado físico de um material combustível pode assumir uma das formas mostradas na Figura 9:
Na figura 8, é possível observar que a chama “envolve” a madeira, a certa distância, queimando os gases combustíveis liberados por esta e não diretamente sua superfície.

Figura 9 - Principais processos de mudança de estado físico

Quanto à sua composição, os combustíveis podem ser classificados como orgânicos ou inorgânicos.
São chamadas de combustíveis orgânicos todas as substâncias que são ou já foram organismos vivos, como a madeira e o papel. Vale ressaltar que esse conceito se aplica também aos organismos que não necessariamente tenham sido vivos, mas que sejam compostos de elementos que já foram vivos, como os derivados de petróleo.
Os combustíveis orgânicos compostos de carbono e hidrogênio são denominados hidrocarbonetos. Outros, como o plástico e a borracha, podem conter, além de carbono e hidrogênio, outros elementos como nitrogênio, cloro, flúor e enxofre.
Os combustíveis inorgânicos, comumente denominados de minerais, não possuem carbono em sua estrutura molecular, sendo que geralmente não contribuem significativamente no processo de combustão, por serem pouco combustíveis. São exemplos: o ferro, magnésio e sódio, bem como granito, quartzo e silício.

A velocidade da queima dependerá de dois fatores:
da capacidade do combustível de combinar-se com o oxigênio sob a ação do calor, o que caracteriza sua combustibilidade; exemplo: a madeira é mais combustível que o aço;
da área disponível para a queima - quanto maior for a área superficial do combustível exposta ao calor, o que representa sua relação superfície versus massa, mais fácil será de se alcançar a ignição da substância e, conseqüentemente, menor será a energia de ativação necessária para fazê-la entrar em pirólise.
Exemplo: se uma chama de fósforo for aproximada de um tronco de árvore, o fogo, muito provavelmente, não se sustentará. Se, entretanto, for aproximado o mesmo fósforo da madeira, em igual quantidade, só que em forma de serragem, o resultado será bem diferente. Outro exemplo é o de alguns líquidos inflamáveis, como diesel, caracterizado pela dificuldade de alcançar a ignição quando se encontra em forma de poça, mas queima rapidamente se estiver na forma de spray (partículas suspensas), necessitando de uma energia bem menor para inflamar-se.
A área de queima do material combustível é representada pelo coeficiente superfície-massa do objeto. A combustão da madeira pode ser tomada novamente como exemplo.
Um tronco de madeira irá queimar mais lentamente que uma fogueira feita com a lenha do mesmo tronco em pedaços. A massa de madeira nas duas situações é rigorosamente a mesma, porém a superfície de madeira exposta às chamas é bem maior no caso da fogueira.
Portanto, a combustão se dá com maior facilidade nesse caso, ou seja, quanto maior for esse coeficiente, mais completa será a queima do material combustível, em razão da forma em que se apresenta no  ambiente em que ocorre o incêndio.
A reação em cadeia, parte integrante do tetraedro do fogo, é o processo que envolve os três elementos: combustível, comburente e fonte de calor. É a reação química ocorrida na combustão que se processa pela combinação do oxigênio com os átomos e moléculas, resultantes da quebra molecular do material combustível pela ação do calor. Cada material combustível possui uma estrutura molecular própria, o que faz com que sua combinação com o oxigênio seja também variável e resulte em diferentes produtos.
O calor inicial quebra as moléculas do combustível, as quais reagem com o oxigênio, gerando mais luz e calor que, por sua vez, vão decompor outras moléculas, continuando o processo de forma sustentável. A combustibilidade de um material é a sua capacidade de reagir  com o oxigênio ao ser aquecido, dependendo de sua forma e composição. Por isso alguns materiais são mais combustíveis que outros. Um mesmo material terá níveis diferentes de combustibilidade dependendo da forma em que se encontra.
Na maioria das vezes, as reações químicas da combustão resultarão em átomos e moléculas capazes de continuar reagindo com o oxigênio, gerando assim um processo sustentável de queima, por isso o nome reação em cadeia. Para uma maior compreensão, será demonstrada a reação química ocorrida durante a combustão do hidrogênio.
Em uma situação hipotética, um determinado ambiente está cheio de moléculas estáveis de hidrogênio (H2), que será o combustível, e oxigênio (O2), que é um comburente. Para fins didáticos, serão consideradas somente quatro  moléculas de H2 e uma de O2.
Figura 10 - Situação inicial com 4 moléculas de hidrogênio e uma de oxigênio

A formação acima é estável. Entretanto, ao sofrer aquecimento pela ação de uma fonte de calor, a molécula de hidrogênio à esquerda da figura se quebrará formando dois átomos instáveis de hidrogênio, como na figura abaixo.
Figura 11 - Quebra do hidrogênio
Para alcançar o equilíbrio, os átomos de hidrogênio irão reagir com os átomos de oxigênio, fazendo a quebra dessa molécula.
Novamente, por fins didáticos, só será considerada a reação com um átomo de hidrogênio. O outro átomo, o da esquerda na figura acima, sofrerá o mesmo processo que este, mas será desconsiderado no exemplo.
Figura 12 – Formação da hidroxila
Ao reagir com o oxigênio, o átomo de hidrogênio formou uma molécula (hidroxila) e deixou um átomo de oxigênio sozinho. Tanto a hidroxila quanto o átomo de oxigênio são instáveis e irão decompor outras moléculas de hidrogênio até alcançarem o equilíbrio.
A hidroxila irá reagir rapidamente com uma molécula de hidrogênio (H2), produzindo uma molécula de água (H2O) e deixando outro átomo de hidrogênio sozinho. O átomo de oxigênio liberado no passo anterior (ver Figura 12) reage com outra molécula de hidrogênio (H2), produzindo uma nova hidroxila (OH) e deixando sozinho outro átomo de hidrogênio.
Figura 13 - Quebra de outras duas moléculas de hidrogênio
Na continuação do processo, foram deixados dois átomos de hidrogênio sozinhos, aumentando a instabilidade das moléculas da reação (ver Figura 13).
A nova hidroxila irá então quebrar outra molécula de hidrogênio para formar uma outra molécula de água, deixando sozinho outro átomo de hidrogênio, conforme a disposição abaixo (ver Figura 14).
Figura 14 – Resultado da quebra: três outros átomos instáveis de hidrogênio
Como a molécula de água é estável, de sua parte não haverá mais quebras. Se os produtos dessa queima fossem somente a água, a reação seria estável. Entretanto, formaram-se também átomos instáveis de hidrogênio.
Desse modo, é possível observar que a reação inicial de um único átomo de hidrogênio resultou em outros três átomos. Estes, por serem instáveis, são capazes de continuar reagindo e quebrando outras moléculas. Continuando a reação, esses 3 átomos resultarão em mais 9.
Os 9 irão liberar mais 27, os quais formarão mais 81 e assim por diante.
Isso é um exemplo de reação em cadeia.
Essas moléculas e átomos instáveis, também denominados íons, estão presentes no ambiente e tendem a se concentrar nas chamas e na fumaça. Durante todo esse processo de quebra, há liberação de energia em forma de calor, que faz com que a reação se sustente. Por isso, a combustão é considerada uma reação sustentável, mantendo as chamas e o calor até que haja alguma interferência no sentido de interromper esse processo.
A continuidade da reação em cadeia será diretamente influenciada pela capacidade de o material combustível absorver e reter o calor aplicado. Se ele dissipar mais calor do que absorve, a quebra molecular será interrompida e o processo de queima se extinguirá.
Diante de tudo o que foi exposto, é correto afirmar que o incêndio produzirá fumaça, contendo em seu interior átomos e moléculas em condições de continuar reagindo com o oxigênio e muito calor. Em um ambiente fechado (como um cômodo), a fumaça necessitará apenas de oxigênio para alcançar a ignição de forma rápida e violenta, o que pode ser obtido pela inserção de ar no ambiente por uma ação incorreta dos bombeiros.
Classificação da combustão
O fogo, ou combustão, geralmente envolve a liberação de luz e energia em quantidades suficientes para ser perceptível. Mas nem sempre existirá luz em uma chama. Um exemplo dessa exceção é a queima do hidrogênio, que produz apenas vapor d’água por meio da sua reação química com o oxigênio. Embora não exista chama visível, muita energia é produzida, o que faz com que seja nomeada como combustão.
A combustão pode ser classificada, quanto à sua velocidade de reação, em viva ou lenta. Quanto à formação de produtos da combustão, pode ser classificada como completa ou incompleta. Existe, ainda, a combustão espontânea, que será abordada em separado, em função de suas particularidades.
Quanto à liberação de produtos
Quanto aos produtos liberados, a combustão pode ser completa ou incompleta.
Combustão incompleta
Todos os produtos instáveis (íons) provenientes da reação em cadeia caracterizam uma combustão incompleta, que é a forma mais comum de combustão. Esses átomos e moléculas instáveis resultantes da quebra molecular dos combustíveis continuarão reagindo com as moléculas de oxigênio, decompondo-as e formando outras substâncias.
Durante todo esse processo, haverá produção de mais chamas e calor, o que exigirá uma interferência externa para que a reação pare e as chamas sejam extintas.
Em incêndios estruturais, devido às características construtivas do ambiente (delimitado por teto e paredes), normalmente, a quantidade  de oxigênio disponível para o fogo é limitada e tende a decrescer. Essa condição fará com que as chamas sofram uma diminuição e até se apaguem.
Entretanto, mesmo com a diminuição destas, a camada gasosa presente na fumaça permanece aquecida e carregada de íons capazes de reagir com o oxigênio, o que a torna uma massa combustível, necessitando apenas de ar para reiniciar a combustão. Se a ação dos bombeiros não for cuidadosa e dentro das técnicas de combate a incêndio apropriadas, pode haver uma explosão da fumaça, conhecida como backdraft, que será abordada mais adiante, expondo os bombeiros e as vítimas à morte ou a danos graves. A combustão incompleta gera resíduos que compõem a fumaça.
A combustão incompleta é a combustão que libera resíduos que não foram totalmente consumidos durante o processo de queima, provenientes da reação em cadeia e capazes de continuar reagindo com o ar.
Combustão completa
Em algumas reações químicas pode ocorrer uma combustão completa, o que significa dizer que todas as moléculas do combustível reagiram completamente com as moléculas de oxigênio, tornando seus produtos estáveis.
Também chamada de combustão ideal, seus produtos são apenas dióxido de carbono e água.
Como exemplo, analise-se a combustão do metano: uma molécula de metano (CH4), ao reagir com duas moléculas de oxigênio (O2), forma duas moléculas de água (H2O) e uma de dióxido de carbono (CO2) em uma combustão completa, conforme a equação:

Se qualquer um dos elementos do fogo for retirado, o fogo será extinto. Saber controlar esse processo é muito importante para o trabalho dos bombeiros na prevenção e no combate aos incêndios.
O problema é que essa equação descreve uma situação ideal. Nos incêndios, geralmente, a mistura é muito rica em metano (ou qualquer outro combustível), havendo a formação de monóxido de carbono (CO) e não somente de dióxido (CO2). O monóxido, por sua vez, é instável e vai continuar reagindo com o oxigênio, quebrando outra molécula e formando outras substâncias instáveis. Isso gera uma reação em cadeia semelhante ao que ocorre com o gás hidrogênio e com a maioria dos combustíveis presentes na natureza. Exemplos práticos de combustão completa, também conhecida como queima limpa, são as chamas obtidas pelo fogão e pelo maçarico.
É importante lembrar que combustão completa não é o mesmo que queima total. A queima total de uma substância é a situação na qual todo o material combustível presente no ambiente já foi atingido pela combustão, enquanto que a combustão completa é a combinação estequiométrica entre o combustível e o oxigênio.
Quanto à velocidade da combustão
Quanto à sua velocidade de reação, a combustão pode ser viva ou lenta.
Combustão completa é aquela em que o combustível reage perfeitamente com o comburente, produzindo somente água e dióxido de carbono.
Combustão viva
A combustão viva é o fogo caracterizado pela presença de chama. Pela sua influência na intensidade do incêndio, é considerada como sendo o tipo mais importante de combustão e, por causa disso, costuma receber quase todas as atenções durante o combate.

 Figura 15 - Exemplo de combustão viva
É importante lembrar que só pode existir uma combustão viva quando houver um gás ou vapor queimando, ainda que proveniente de combustíveis sólidos ou líquidos, uma vez que a combustão se processa em ambiente gasoso.
O tamanho da chama não é um fator relevante para classificar a reação como combustão viva. Para que isso ocorra é necessário que uma quantidade suficientemente perceptível de energia seja liberada, ou seja, é a relação entre a energia de ativação e a unidade de volume de uma reação química que determina se a reação é fogo ou não.
No começo da combustão, esse nível de energia inicial pode ser em torno de 1.000 (103) kW/m3, que é suficiente para aquecer 1 grama de água em 1 ºC por segundo. Reações sustentáveis de incêndio podem atingir densidades muito maiores – algo em torno de 1010 kW/m3.
A temperatura nessa zona de reação pode atingir 2000 ºC em combustíveis líquidos e 1000 ºC em combustíveis sólidos (incandescência).
A taxa de liberação de calor em uma combustão caracteriza a potência, ou seja, a quantidade de energia liberada em um determinado intervalo de tempo (normalmente dado em kJ/s ou kW) e é uma medida quantitativa do tamanho do incêndio. Ela descreve como será liberada a energia disponível dos materiais existentes no local. Alguns exemplos de pico de taxas de liberação de calor podem ser vistos na tabela Tabela 3.
 Combustão lenta
A incandescência – smoldering – é um processo de combustão relativamente lento que ocorre entre o oxigênio e um sólido combustível, comumente chamado de brasa.
Incandescências podem ser o início ou o fim de uma chama, ou seja, de uma combustão viva. Em todos os casos há produção de luz, calor e fumaça.

 Figura 16 - Incandescência em um incêndio
A reação se desenvolve na superfície do sólido e o oxigênio se difunde para a superfície deste, a qual começa a luzir e a queimar. A luminescência é indicativa de temperaturas acima de 1000 ºC. Geralmente, há presença de incandescência na fase final dos incêndios. Ela pode tornar-se uma combustão viva se houver um aumento do fluxo de ar sobre o combustível, semelhantemente ao efeito  que se deseja obter ao acender uma churrasqueira. Por isso, uma ação de ventilação mal realizada por parte dos bombeiros, durante o combate ao incêndio ou no rescaldo, poderá agravar as condições do sinistro, reignindo os materiais combustíveis.
Incandescências atingem altas temperaturas e estão presentes na tanto na fase inicial quanto na final de incêndios e nessa fase, oferecem risco de re-ignição dos materiais.
Um cigarro sobre uma poltrona ou colchão inicia uma combustão lenta que pode resultar em uma combustão viva e, conseqüentemente, em um incêndio.
A velocidade da reação da combustão lenta depende de muitos fatores, mas é geralmente da ordem de 10-2 a 10-3 cm/s ou aproximadamente 1 a 5 mm/minuto.
Altos níveis de monóxido de carbono (CO) estão associados a esses tipos de combustão. Mais de 10% da massa combustível é convertida em CO, o qual necessita de ar para continuar reagindo, embora a quantidade requerida seja pouca.
Em um incêndio, essa combustão, apesar de ser muito lenta, é potencialmente mortal devido à produção de monóxido de carbono.

A incandescência geralmente ocorre em:
1. combustíveis sólidos porosos, como fumos, carvão, ou,
ainda, a espuma ou algodão de colchões;
2. em combinação de combustíveis, como a mistura de tecidos com algodão ou polímeros – como o caso de sofás;
3. em locais de descarga de combustíveis sólidos já queimados – como o caso de lixões ou carvoaria.
É importante não confundir combustão lenta com reação lenta.
Em uma reação lenta, ocorrerá uma deterioração gradual e quase imperceptível do material, como o caso da oxidação, não havendo liberação significativa de calor. Um exemplo clássico de oxidação é o ferro em processo de ferrugem (Figura 17). O oxigênio da atmosfera combina com as propriedades do ferro e gradualmente, retira as ligações que mantêm os átomos de ferro juntos. Entretanto, não há liberação de calor suficiente para classificá-lo como combustão.
A combustão lenta está presente no final dos incêndios e é potencialmente letal devido à produção de monóxido de carbono. Em todos os casos há produção de luz, calor e fumaça.
 Figura 17 - Material sob ação da ferrugem, que caracteriza uma reação lenta
Combustão espontânea
Em todas as formas de combustão apresentadas até agora, fez-se referência à presença de uma fonte externa de calor para dar início a um processo de queima. Entretanto, é importante abordar um tipo de combustão que foge a essa regra, de rara ocorrência, que não necessita de uma fonte externa de calor. É o caso da combustão espontânea.
A combustão espontânea é um processo de combustão que começa, geralmente, com uma lenta oxidação do combustível exposto ao ar. Pode ocorrer com materiais como o fósforo branco, amontoados de algodão ou em curtumes (tratamentos de peles de animais).
Nesses dois últimos, há uma decomposição orgânica do material e a reação química é relativamente lenta, o que torna difícil sua observação. Pode, em alguns casos, assemelhar-se à incandescência, o que faz com que uma combustão dessa natureza seja percebida apenas quando a situação já é grave.
A taxa de liberação de energia pela reação química compete com a habilidade do combustível de dissipar calor para o ar ambiente.
Isso quer dizer que, se a reação não libera calor suficientemente para o ambiente, sua temperatura irá aumentar e, conseqüentemente, a velocidade da reação química também aumentará.
Esse processo tanto pode resultar em uma combustão viva (uma chama), quanto em uma combustão lenta (incandescência). Todo o processo pode levar horas ou dias e necessita de um conjunto crítico de condições ambientais ou de aquecimento para ser viável.
Até a atualidade não há estudos conclusivos sobre como se processa esse tipo de combustão.
O estudo da vela
No século XIX, o cientista Michael Faraday já sugeria o estudo da história química da vela, afirmando que não existia melhor exemplo para se compreender o fogo, senão pelo comportamento de uma simples vela e que praticamente todas as leis do universo passam por esse processo.

 Figura 18 - A combustão de uma vela
Até hoje, o estudo da vela é um dos meios mais didáticos para a compreensão do comportamento do fogo.
Em uma vela, o calor inicial da chama no pavio faz com que a cera, em sua superfície, derreta, encharcando o pavio, o qual, por sua vez, conduz a cera derretida por ação capilar (semelhantemente ao que ocorre com as raízes de uma árvore ao puxar água do solo) à zona de reação, onde o calor da chama fará com que a cera derretida evapore e se misture ao ar, produzindo luz e mais calor.
É importante então que se compreenda que o principal elemento em queima na vela não é o pavio, mas os gases combustíveis provenientes da cera em reação com o ar, pois o pavio só queima quando atinge a zona de reação.
Se uma tela metálica (desde que não seja de alumínio, por causa da sua temperatura de fusão) atravessa a chama de uma vela, nota-se que a chama permanece em volta do pavio, provando que a chama se processa ao redor dele e que há uma zona de reação onde os gases combustíveis provenientes da cera estarão se misturando ao oxigênio.
A função da tela nesse exercício será de dissipar energia sem apagar a chama.

 Figura 19 – Esquema da chama de uma vela quando atravessada por uma tela metálica.

 Figura 20 - Chama de uma vela sob uma tela metálica

zona de reação é a área em que o combustível (na forma gasosa) irá se misturar – difundir – ao oxigênio.


 Figura 21 - Zona de reação da chama de uma vela
A figura mostra a combustão ao redor do pavio, provando que a combustão é uma reação gasosa.
A chama é uma reação totalmente gasosa.
É possível observar que quando a ponta do pavio torna-se luminescente é sinal de que ele está sendo consumido, e que, conseqüentemente, está servindo de combustível, como é possível observar na Figura 22, a figura mostra a zona de reação, que é a área onde os gases – combustível e oxigênio – são misturados, produzindo a queima.
A ponta do pavio, ao ser dobrada, entra na zona de reação, apresentando luminescência. Isso significa que está queimando.

 Figura 22 - Chama de uma vela com pavio dobrado
Considerando que a cera derretida é conduzida pelo pavio, é correto também afirmar que o tamanho da chama será influenciado por seu tamanho e espessura. Quanto mais longo e espesso for o pavio, mais cera derretida e, portanto, mais combustível será capaz de conduzir à zona de reação.
Na parte mais alta da chama, nota-se uma área amarela, onde a luz é mais intensa. Nela encontra-se a chama difusa, que é o tipo de chama no qual o combustível e o oxigênio são transportados (difundidos) de lados opostos da zona de reação (ver Figura 21), em decorrência da diferença de concentração entre os gases (combustível e  comburente).
Pela Lei de Fick, difusão é o processo de movimentação de componentes químicos e outras estruturas moleculares em uma mistura – normalmente de gases – que se dá de uma zona alta para uma de baixa concentração na mistura.
Um exemplo disso é o que ocorre com uma gota de tinta dissolvendo-se em um copo com água. A tinta irá se difundir com a água até que todo o volume do copo esteja colorido. O mesmo processo ocorre entre o oxigênio e os gases combustíveis na chama. O oxigênio no ar irá se mover até a zona de reação, a uma gravidade zero. O combustível é transportado para dentro da zona de reação, do lado oposto, pelo mesmo processo e ambos se misturam pela difusão.
Chama difusa é um processo de combustão, no qual o gás combustível e o oxigênio são transportados para uma zona de reação, devido a uma diferença de concentração.
Chamas difusas representam a categoria predominante de chamas, principalmente nos incêndios. É o caso das chamas de incêndio florestal, da chama em um palito de fósforo ou, ainda, da ignição da fumaça em um incêndio estrutural.

Figura 23 - Exemplos de chama difusa (incêndio florestal, chama de um fósforo e incêndio urbano)
Na base da chama, há uma parte de coloração azulada.
Nesta área, os gases produzidos pela cera estão reagindo com o oxigênio em uma melhor mistura, o que produz uma queima sem resíduo, denominada de chama do tipo pré-misturada, na qual o combustível e o comburente são misturados antes de atingirem a zona de reação, como é possível notar na Figura 18.
A cor emitida pela chama é determinada, em parte, pelos elementos contidos na reação. É a cor emitida pelos hidrocarbonetos.
Exemplo: quando misturada com o ar, uma solda de oxi-acetileno bem ajustada gera uma chama de um tom azul claro.
A chama é mais visível quando carbonos e outros sólidos ou líquidos, resultantes da combustão incompleta, são levados às áreas de altas temperaturas e incandescem indo desde o tom vermelho, até o  laranja, amarelo ou branco, dependendo de sua temperatura (ver Tabela 4).


chama pré-misturada é um tipo de chama no qual o gás combustível e o ar (oxigênio) são misturados antes que a ignição ocorra, facilitando a queima. Equipamentos como fogão ou aparelho de oxiacetileno são projetados para trabalharem com chama pré-misturada, produzindo uma queima limpa.
Sua combustão é caracterizada por chamas de cor azul.
No caso dos fogões, há uma entrada de ar em seu gabinete que permite a mistura entre o gás liquefeito de petróleo (GLP) e o ar antes de queimar na boca. No caso do maçarico, há a mistura entre o oxigênio e o acetileno no punho do aparelho, fornecendo ao bico a mistura já pronta e proporcionando uma queima de altíssima temperatura. Uma máquina de combustão interna à gasolina (com ignição por centelha) ou uma máquina a diesel (com ignição por compressão) também trabalham com chamas pré-misturadas.


 Figura 24 - Chama de um fogão
Chama pré-misturada é o processo de queima do combustível já misturado ao ar antes de atingir a fonte de calor e alcançar a ignição. Geralmente, possui chama de cor azul.
A chama pré-misturada aparece na ignição de sólidos e líquidos, no princípio das chamas difusas, como é possível observar na Figura 25.
Na foto abaixo é possível observar a coloração azulada na base da chama, caracterizando a parte que é pré-misturada.

 Figura 25 – Presença da chama pré-misturada na queima da madeira
A chama pré-misturada produz uma queima limpa, ou seja, sem resíduos.
As chamas pré-misturadas têm maior poder calorífico que as chamas difusas (ver Tabela 1).
Voltando à experiência da tela metálica atravessando a chama, é possível notar que, se a tela aproximar-se da base da chama, há liberação de uma fumaça branca. Se for aproximada uma chama de fósforo dessa fumaça, é possível observar que ela entra em ignição por causa dos íons liberados durante a reação em cadeia. Por isso, a fumaça branca é combustível.

 Figura 26 - Queima da fumaça branca em uma vela
O mesmo fenômeno pode ser observado ao se extinguir a chama de uma vela. Ao aproximar a fumaça que ainda está sendo liberada de uma nova chama, ocorrerá o acendimento do pavio ainda que a chama não o tenha tocado, demonstrando que a fumaça é combustível.
À medida que se aproxima a tela da parte superior da chama, nota-se que a fumaça torna-se escura. O mesmo fósforo aceso aproximado dessa fumaça se apagará. Isso porque, nessa área, os gases já foram mais queimados que na área mais baixa (onde a fumaça é branca).
Com a tela próxima à base da chama, a fumaça branca entra em ignição quando se aproxima de um fósforo aceso.
Sua coloração escura é decorrente da presença de mais resíduos – fuligem – e dióxido de carbono, que dificultam a queima do palito de fósforo, apagando-o por abafamento.
A chama do palito de fósforo é extinta ao se aproximar da
fumaça escura.

Figura 27 - Fumaça escura em uma vela
Nos incêndios, ocorre liberação tanto de fumaça branca quanto de fumaça escura. É natural que ambas se misturem, formando uma fumaça de tom cinzento.
Cálculo da altura de chama
Um bom modo de se estimar a altura da chama pode ser obtido  por meio da expressão:


De forma prática, é possível estimar a altura da chama para alguns materiais, quando da ocorrência de um incêndio, como mostrado na Tabela 5:
Em casos reais, pode-se estimar a taxa de liberação da combustão avaliando-se a altura da chama, dados que podem ser obtidos tanto pela equação anterior, quanto pela Tabela 5.
Explosão
Existe combustão que ocorre em uma velocidade de queima muito alta, geralmente com a presença de chamas não sustentáveis (de efeito passageiro), porém muito perigosas.

Uma explosão é o resultado de uma expansão repentina e violenta de um combustível gasoso, em decorrência da ignição da mistura entre um gás (ou vapor de gás) e o oxigênio presente no ar.
Essa ignição se dá em alta velocidade, gerando uma onda de choque que se desloca em todas as direções, de forma radial.
Fig 28 – Exemplo de uma explosão
Uma explosão por combustão é uma explosão química. É o caso da maioria das explosões ocorridas em incêndios, como as decorrentes do vazamento de GLP ou da fumaça.
Como visto anteriormente, a fumaça possui, em seu interior, gases combustíveis (provenientes dos íons resultantes da reação em cadeia) que, ao se acumularem em um ambiente pouco ventilado, como no caso dos incêndios estruturais, podem sofrer uma ignição de forma súbita com a entrada de oxigênio. Essa explosão de fumaça é conhecida como backdraft ou backdraught e será abordada mais adiante.
Uma explosão pode ser classificada como uma detonação ou deflagração. Uma detonação ocorre quando o deslocamento do ar tem uma velocidade superior a 340 metros/segundo. Abaixo disso, há uma deflagração. Explosões de fumaça ou do GLP no ambiente são deflagrações e não detonações, posto que a velocidade do ar é menor que 340 m/s, ao contrário do que ocorre com a maioria dos artefatos explosivos (bombas).
É importante lembrar que, mesmo estando abaixo de 340 m/s, explosões por deflagração possuem uma onda de choque capaz de afetar a estrutura da edificação, levando à morte quem estiver no ambiente.
Sempre que houver uma mistura de gás combustível com o ar haverá o perigo de uma explosão. Por meio de análises químicas e testes científicos, determinou-se que os gases só podem alcançar a ignição quando atingem determinadas concentrações, variáveis de substância para substância.
Se não houver quantidade suficiente de gás combustível, a mistura será pobre e não haverá queima. Da mesma forma, se a concentração do gás for muito alta a mistura é denominada “muito rica” e também não irá deflagrar.
Quando a mistura gás-ar cai em uma faixa na qual pode alcançar a ignição, diz-se que está dentro dos limites de explosividade ou limites inflamáveis.
Conforme se nota na Tabela 6 e na Figura 29, os níveis de um gás em um ambiente são medidos em porcentagem do volume.
Conseqüentemente, haverá explosão quando houver uma proporcionalidade na mistura entre os dois elementos.
Quanto mais alta for a presença de um só deles, menor o perigo de explosão.
A ocorrência de uma explosão em um ambiente depende da faixa de inflamabilidade da mistura do ar com o  gás, que varia de substância para substância.

Os limites da faixa de inflamabilidade (ou explosividade) são geralmente registrados a uma pressão de 1 atmosfera ao nível do mar e a uma temperatura de 21 ºC.
Se houver aumento de temperatura e de pressão, ocorrerá a redução do limite inferior e aumento do limite superior em torno de 1%, aumentando a faixa de inflamabilidade e, conseqüentemente, o risco de explosão. Em algumas misturas, o limite superior pode atingir 100% em altas temperaturas. A diminuição da temperatura e da pressão fará o efeito inverso.
Essa variação da faixa de inflamabilidade sob condições anormais denota a importância de os bombeiros adotarem cuidados adicionais ao se depararem com emergências envolvendo gases inflamáveis armazenados em cilindros, com ou sem vazamento. Uma medida emergencial é resfriar os recipientes, a fim de manter a sua temperatura baixa.

  Fig 29 - Quadro comparativo da faixa de inflamabilidade de gases comuns
Como se pode notar na Figura 29, bastam somente 13% de monóxido de carbono no ambiente e calor para ocorrer uma explosão de fumaça. Isso mostra o quanto a fumaça, composta principalmente por CO, pode ser explosiva em um ambiente com uma faixa de inflamabilidade muito maior que a do GLP e quase tão alta quanto a do acetileno e do hidrogênio, considerados gases muito explosivos. Daí a importância do cuidado dos bombeiros na abordagem de incêndios estruturais, principalmente enclausurados.
A faixa de inflamabilidade do monóxido de carbono presente na fumaça é muito maior que a do GLP e quase tão grande quanto a do acetileno e do hidrogênio.
As condições do ambiente que comporta o material combustível influenciarão diretamente o risco de explosão.
Um exemplo é o tanque subterrâneo de combustível de um posto de gasolina.
Se estiver cheio, não haverá risco de explosão, pois a quantidade de vapor do gás causará uma mistura muito rica. Entretanto, se o tanque estiver com pouco combustível (quase vazio), este irá secar gradualmente, liberando gás no ambiente e atingindo uma mistura ideal com o ar dentro do recipiente, atingindo sua faixa de inflamabilidade.
Basta que uma fonte de calor entre em contato com essa mistura para que ocorra uma explosão. Como o abastecimento dos tanques se dá quando estes estão vazios ou quase vazios, o perigo de uma explosão é maior quando o caminhão tanque está abastecendo os reservatórios do posto de gasolina. A energia liberada por um cigarro aceso, uma lanterna, uma campainha ou, ainda, a eletricidade estática é suficiente para deflagrar uma explosão em tais condições.
A eletricidade estática é obtida pela fricção (ainda que rápida) ou choque entre corpos de diferentes materiais, gerando uma diferença  de potencial nas cargas elétricas devido à separação das superfícies em nível molecular.
Elétrons de uma substância são tomados por outra e,  quando quantidade suficiente é coletada, tentam eqüalizar o número de elétrons entre os corpos, pulando o espaço na forma de descarga elétrica.
Essa pequena, porém poderosa forma de energia pode atingir temperatura superior a 1000 ºC. Apesar da alta geração de calor, a dissipação é muito rápida, não oferecendo à maioria dos combustíveis comuns (madeira, papel, tecido) condições de inflamação, ao contrário do que ocorre com os gases provenientes dos líquidos inflamáveis armazenados, como é o caso dos reservatórios de postos de gasolina e distribuidoras.
Por esse motivo, sistemas eficientes de aterramento e medidas rígidas de segurança devem ser adotados por ocasião dos abastecimentos de combustível nos tanques.
A ignição de uma mistura de gás-ar é explosiva por causa de sua grande área  superficial exposta ao calor, ou seja, seu coeficiente superfície-massa é muito alto.
As medidas de ação específicas para o combate a incêndio em ocorrências dessa natureza, bem como em outras que apresentem riscos especiais, devem ser adotadas conforme os Procedimentos Operacionais Padrão (POP) do CBMDF, específicos para os diversos tipos de ocorrência, os quais devem ser de conhecimento das guarnições de bombeiros.
Existem deflagrações que não são produzidas por gases inflamáveis, mas, sim, por poeiras inflamáveis, que também podem causar explosões, como o que ocorre com o alumínio ou com componentes orgânicos, tais como açúcar, leite em pó, grãos, plásticos, pesticidas, produtos farmacêuticos, serragem, etc.
Uma explosão dessa natureza é o produto da combustão explosiva entre a mistura de poeira combustível com o ar, a qual, ao encontrar alguma fonte de calor, vem a inflamar-se de forma rápida, atingindo todo o ambiente. A faixa de explosividade, nesse caso, é difícil  de estabelecer e depende de diversos fatores, tais como:
• tamanho das partículas em suspensão – quanto menor o tamanho das partículas, maior a explosividade por causa da sua relação superfície versus massa;
• umidade – quanto menos úmida a mistura, maior o risco de explosão;
• misturas híbridas – diferentes materiais juntos tendem a aumentar a explosividade da mistura, requerendo menos energia para deflagrá-la;
• tempo em suspensão – quanto mais tempo a poeira permanecer em suspensão no ambiente, maior será o risco de explosão;
• concentração de oxigênio – quanto maior a concentração de oxigênio na mistura, mais facilmente se dará a reação de combustão.
Em um aspecto prático, uma boa medição do risco de um ambiente cheio de poeira inflamável em suspensão é estender o próprio braço. Se não for possível enxergar sua mão, é sinal de que a situação deve ser considerada como explosiva.
Deve-se checar também se há deposição de pó nas superfícies – até 1 mm de poeira sobre a superfície é tolerado. Acima disso, deve-se dispensar atenção e cuidados maiores.
Se em um ambiente com alta concentração de poeira combustível não for possível enxergar as mãos quando os braços estão estendidos, o risco de explosão é muito grande.
De forma geral, a temperatura para deflagrar explosão em mistura de ar e poeira gira em torno de 330 a 400 ºC, sendo bem maior que em mistura de ar e gás. Essa temperatura pode ser facilmente encontrada em superfícies quentes de maquinário industrial ou de fornos, que é o caso de silos.


Os cuidados dos bombeiros em ambientes com mistura de ar e gás, ou de ar e poeira combustível, são geralmente de prevenção à explosão. Uma vez ocorrida, pouco se pode fazer. Na situação em que a guarnição chega ao local depois da explosão, devem ser considerados os riscos de um colapso da estrutura.
As ações a serem adotadas pelos bombeiros devem seguir o POP específico para ocorrências em ambientes com poeiras combustíveis em suspensão. Em linhas gerais, a guarnição de socorro deve:
evacuar e isolar a área;
umedecer o ambiente com pulsos curtos de jato atomizado, com cuidado para não mover a poeira;
desligar maquinários e equipamentos elétricos energizados.


BLEVE Boiling liquid expanding vapor explosion
É o tipo de explosão que ocorre em recipientes que comportam líquidos, em decorrência da pressão exercida em seus lados, quando aquecido, e ferve, excedendo a capacidade do recipiente de suportar a pressão resultante.
Ainda não há um termo em português para descrever esse fenômeno, que, geralmente, ocorre quando o calor é aplicado ao recipiente, levando o líquido à fervura. A pressão do vapor irá aumentar até atingir um ponto em que o recipiente não suportará mais, causando uma fissura em sua estrutura, com a liberação do vapor de forma violenta.
A Figura 30 mostra o desenvolvimento típico de um BLEVE.

As paredes do tanque são resfriadas inicialmente pelo líquido que está dentro dele (Figura 30a).


Este efeito de resfriamento  desaparece à medida que o líquido
diminui em decorrência da sua evaporação (Figura 30b). 



Quando o nível do líquido está abaixo da fonte  de calor (Figura 30c), a parede do recipiente torna-se enfraquecida pela  ação do calor e do aumento da pressão interna, forçando a estrutura e levando à ruptura (Figura 30c).

 Figura 30 - Desenvolvimento de um BLEVE


O BLEVE pode ocorrer também quando existe um dano na estrutura do cilindro (ponto fraco), submetido a um aumento da pressão interna, ainda que o líquido não tenha ficado abaixo do ponto de contato com a fonte de calor.
O resultado de um BLEVE pode ser desde um escape mínimo do vapor pela ruptura (até a equalização da pressão interna do cilindro), até uma explosão (que libera um grande onde de impacto e calor).
Para se compreender melhor esse fenômeno, basta lembrar a pipoca: o líquido dentro da casca dura do milho é aquecido, ferve e exerce uma pressão contra esta até que se rompa, resultando em um núcleo cozido que escapou da sua casca enquanto a pressão interna se igualava à do ambiente.
Esse fenômeno pode ocorrer em recipientes que armazenam ou transportam líquidos ou gás, como os caminhões tanque (ver Figura 31) ou reservatórios quando são aquecidos.

As ações a serem adotadas pelos bombeiros devem seguir o Procedimento Operacional Padrão (POP) específico para ocorrências envolvendo tanque. Em linhas gerais, a guarnição de socorro deve:
• resfriar o tanque (à distância);
• isolar a área;
• controlar o vazamento.

Figura 31 – Tipo de recipiente sujeito a BLEVE
Ocorrências envolvendo caminhões tanque ou tanques de armazenagem devem ser consideradas como risco de explosão, tanto em relação ao isolamento da área quanto à necessidade de resfriar o recipiente, por causa da possibilidade da ocorrência de um BLEVE.
Mesmo que o líquido no recipiente não seja inflamável, a sua ruptura pode ser violenta, resultando em uma força tal que lance fragmentos a grandes distâncias, acompanhado de uma forte onda de choque.
Se o líquido for inflamável, a fissura no recipiente irá exibir uma bola de fogo que piora as condições da ocorrência. Se o líquido for um tipo de produto perigoso, outras tantas variáveis adicionais devem ser observadas, como o cuidado com rede pluvial, contaminação pelo ar, etc. Nesse caso, devem ser adotados os procedimentos relativos a produtos perigosos.

O BLEVE pode ocorrer tanto em recipientes que contenham líquidos inflamáveis, quanto com líquidos não inflamáveis.

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