Transferência de calor e a Termodinâmica da Energia (calor) – Condução – Convecção - Radiação térmica - ( reação exotérmica e endotérmica ) / ( rankine e kelvin ) - propriedades térmicas de alguns materiais - formas de transferência do calor ( condução, convecção da fumaça e radiação ) / ( como calcular ) - Balanço térmico - Condutividade térmica - Parede de tijolo ou aço ( tempo de penetração do calor ) - Temperatura na camada de fumaça à 4 metros de distância do foco (equação) - Radiação térmica - Stefan-Boltzmann
Transferência de calor
Como a combustão é uma reação química
que produz luz e calor, é importante que os bombeiros
saibam o que é e como o calor se propaga em um ambiente, uma vez que ele possui
um potencial de dano tão grande ou maior do que o da ação direta das chamas em
um incêndio.
Termodinâmica é a ciência que define a relação entre energia, calor e
propriedades físicas mensuráveis, como a temperatura, o que torna o seu estudo
de relevante importância para se compreender o comportamento do fogo. Para uma
melhor compreensão a respeito, é preciso
observar os seguintes conceitos:
Energia é a expressão mais produtiva do equilíbrio termodinâmico de
um sistema (ou material), apresentando-se sempre como trabalho (movimento da
massa ao longo de uma distância) ou calor. Existem vários tipos de energia e
suas aplicações mais comuns envolvem a transformação de um tipo para outra.
Exemplos: em um veículo, energia química é convertida em trabalho para
impulsionar as rodas (energia cinética) e o calor residual do bloco do motor é
dissipado para o ar. Em uma reação em cadeia, energia térmica é convertida em energia
química (novos produtos de combustão), que proporcionará a transferência de
calor de um corpo para outro em um incêndio.
Calor é a transferência de energia devido a uma diferença de temperatura.
É a energia térmica em movimento que se transporta de uma região mais quente
para uma região mais fria, obedecendo à 1ª Lei da Termodinâmica (princípio da
conservação da energia), na qual os materiais tendem a alcançar o equilíbrio
térmico.
Pelo equilíbrio térmico, a transferência de calor de
uma região mais quente para uma região mais fria ocorrerá até que ambas estejam
com a mesma temperatura.
No equilíbrio, também conhecido como
regime estacionário ou permanente, todo o corpo estará em uma mesma
temperatura.
A transferência de calor pode ocorrer
tanto entre corpos diferentes como em áreas distintas de um mesmo corpo.
O calor presente em um incêndio pode
ser gerado pela transformação de outras formas de energia, como, por exemplo:
- da energia química - calor gerado pela
combustão;
- da energia elétrica - calor gerado pela
passagem de eletricidade por meio de um condutor, ou do próprio ar: arco voltaico,
faísca, eletricidade estática e raio;
- da energia mecânica - calor gerado pelo
atrito entre dois corpos; ocorre com freqüência com
motores em suas peças internas: rolamentos, mancais,
ventoinhas, ventiladores e afins.
Existe também a energia térmica
decorrente da energia nuclear, que é o calor gerado pela fissão ou fusão dos
átomos, porém de raríssima ocorrência no caso de incêndios urbanos.
O calor (energia térmica) está
diretamente associado com a diferença de temperatura entre dois
corpos. Já a temperatura é a expressão do grau de agitação das moléculas. As
moléculas estão em constante movimento e, quando aquecidas, sua velocidade
aumenta, elevando também a temperatura. Algo que é “quente” tem relativamente maior
temperatura comparado a outro que é “frio”.
Temperatura é a medida direta da atividade molecular, ou seja, é a medida da energia térmica.
Todas as escalas utilizadas para definir temperatura são arbitrárias e foram
estabelecidas levando-se em conta a conveniência.
A Tabela 8 apresenta a relação entre
quatro escalas baseadas no ponto de ebulição e congelamento da água.
Duas delas – Rankine e Kelvin –
estabelecem zero grau como zero absoluto.
Zero absoluto é a temperatura na qual a
atividade molecular cessa, ou seja, não há movimentação das moléculas.
Fig 32 - Transferência de calor
A Figura 32 esquematiza o fluxo de
calor do corpo mais quente para o mais frio, com a unidade representada em
kilowatts. Da mesma forma, em um incêndio, o material aquecido inicialmente
(foco do incêndio) irá transferir calor para o ambiente e outros materiais próximos.
Se essa ação for continuada, estes irão sofrer pirólise, podendo atingir seu
ponto de ignição.
O calor é, então, o responsável pela
mudança de temperatura nos campos e é proporcional ao calor específico do corpo
(c), que é a quantidade de calor por unidade de massa necessária
para elevar a sua temperatura em 1º C. O calor específico é uma característica própria de cada
material, com valor constante na Tabela 9.
O calor (q) pode ser calculado
pela equação:
q = m c ΔT
Na qual:
m é a massa.
c é o calor específico do material.
ΔT é a diferença de temperatura entre os
corpos (ou entre
as partes).
Usualmente, o calor é expresso em
joules (J). São necessários 4,182 J para elevar 1 (um) grama de água a 1º C. A taxa de fluxo de calor é representado por q& e é mensurada
por quilojoules por segundo (kJ/s) ou kilowatts (kW).
Um corpo não possui calor, mas, sim, temperatura.
Em uma reação, o calor pode ser liberado
ou absorvido.
Quando o calor é liberado, a reação é
denominada exotérmica. Exemplo: quando se aplica pressão em um
gás, este libera calor para o ambiente e se transforma em líquido, como o caso
do GLP envasado e do CO2 em um aparelho extintor. Se for aplicada mais pressão,
continuará havendo liberação de calor e ele solidificar-se-á, como o caso do
CO2 que se transforma em gelo seco.
Quando o calor é absorvido, a reação é
denominada endotérmica. Exemplo: a aplicação de calor em um corpo
sólido, como o gelo, fará com que ele absorva o calor aplicado e se transforme
em água. Continuando o aquecimento, a água continuará absorvendo calor e se
transformará em vapor, mudando seu estado para gasoso.
Formas de transferência de calor
Como o calor é a energia que pode
causar, propagar e intensificar incêndios, conhecer como é transmitido de um
corpo ou de uma área para outra é essencial para saber como controlar um
incêndio.
O controle é o primeiro passo para extingui-lo.
Figura 33 - Um incêndio se propaga e se
intensifica pela transferência de calor
A transferência de calor de um corpo
para outro ou entre áreas diferentes de um mesmo corpo será influenciada:
1. pelo tipo de material combustível
que está sendo aquecido;
2. pela capacidade do material
combustível de reter calor;
3. pela distância da fonte de calor até
o material combustível.
Existem três formas básicas de
transferência de calor:
condução, convecção e radiação.
Figura 34 - Formas de transferência de calor
Apesar de, em um incêndio, ocorrerem muito frequentemente as três formas, geralmente, uma delas predomina sobre as outras em um determinado estágio ou região do incêndio.
Condução
É a
transferência de calor por meio do contato direto entre as moléculas do
material, em corpos sólidos. Nesse processo, o calor passa de molécula a
molécula, mas nenhuma delas é transportada com o calor.
Figura 35 – Transferência de calor por condução através da parede
Um corpo sólido (como uma barra de metal, por exemplo), sendo
aquecido em uma de suas extremidades sofrerá condução. O calor será
transportado da extremidade mais quente em direção à extremidade mais
fria. Suas moléculas, ao serem aquecidas, agitam-se e chocam-se com as
vizinhas, transmitindo calor como uma onda de energia. E assim o
movimento continua sucessivamente, até que o corpo atinja o equilíbrio.
É
importante frisar que as moléculas do corpo se agitam, porém não saem do
lugar em que se encontram, ou seja, não se deslocam. Nesse processo,
ocorre a transferência de calor, tanto pela agitação das moléculas
quanto pelo movimento dos elétrons livres no metal.
Figura 36 - Transferência de calor por condução
Neste exemplo, o calor absorvido pela face interna da parede irá fluir para a face externa, por condução.
Condução
A
quantidade de calor se movendo através da barra metálica será
diretamente proporcional ao tempo de exposição ao calor, à sua seção
transversal e à diferença de temperaturas entre as suas extremidades e
inversamente proporcional ao seu comprimento, ou seja, quanto maior a
diferença de temperatura entre as extremidades, maior será a
transferência de calor.
Em um
incêndio, quanto mais intensas forem as chamas, mais calor tende a ser
dissipado para os materiais próximos, agravando o sinistro, o que
implica afirmar que, quanto mais tempo exposto, mais calor fluirá pela
barra. Dessa forma, o tempo resposta em um incêndio é fundamental para
um socorro eficiente.
Figura 37 - Condução de calor em um
sólido
No início de 1800, Joseph Fourier
formulou a lei da condução de calor, que estabelece que o calor fluindo através
da matéria pode ser calculado pela expressão:
Na qual:
k é a condutividade térmica (pode ser observada na Tabela 9).
A é a área através da qual o calor é transferido.
T2 e T1 são as temperaturas nas diferentes faces do corpo
(zona quente e zona fria).
l é a espessura (ou o comprimento) do corpo.
A equação acima estabelece que o fluxo
de calor entre duas temperaturas em um sólido também é
proporcional a uma característica do sólido, conhecida como condutividade
térmica (k). Da mesma forma, quanto maior a área, maior será o calor
passando por ela. Caso análogo acontece com o cálculo do fluxo de água passando
por um cano.
Condutividade térmica é a característica do material que representa a sua resistência à condução
de calor. Devido à sua composição, os materiais conduzem mais ou menos calor
quando expostos a uma mesma fonte externa de aquecimento.
Quanto maior o coeficiente de condutividade térmica de
um material, mais facilmente este conduzirá calor. Quanto maior a diferença de
temperatura entre os corpos (ou áreas) maior será a transferência de calor.
Analisando a Tabela 9, conclui-se que
os metais são bons condutores de calor, enquanto o concreto e o plástico são
bons isolantes térmicos. Por esse motivo, é considerada de grande importância a
condutividade térmica do material pelo qual o calor será conduzido (transferido).
Uma parede feita de tijolos conseguirá reter calor em um ambiente por muito mais tempo que uma parede
de metal, comum em um trailer ou navio.
O tempo de exposição do material ao
calor, como já foi dito, também é
determinante para a quantidade de calor a ser transferida. Se este for maior
que a capacidade do material de dissipar calor para o ambiente, haverá
aquecimento e, conseqüentemente, o incêndio se propagará mais facilmente.
Quanto maior o tempo de exposição dos materiais ao
calor, maiores as chances do incêndio se propagar.
Se dois ou mais corpos estão em
contato, o calor é conduzido por meio deles como se o conjunto fosse um só
corpo, respeitando-se a condutividade de cada material componente.
Materiais que contêm espaços vazios (em
forma de bolsas de ar) em sua estrutura, tal como a celulose e a lã mineral,
são bons isolantes térmicos, pela dificuldade que o calor enfrenta para
atravessar esses espaços, por causa da baixa condutividade térmica do ar.
Com a equação e os valores constantes
na Tabela 9, e ainda lembrando que a taxa de fluxo de calor (q’’) é a
quantidade de calor fluindo sobre uma unidade de área, o cálculo para a taxa de
fluxo de calor seguirá a seguinte equação:
Logo, é possível então estimar, em um
incêndio em um cômodo, qual o fluxo de calor que está passando por uma parede
de tijolos de 12 cm
de espessura (medida comum em construções), na qual a temperatura em um dos
lados da parede é de 22 ºC (temperatura ambiente) e do outro é
de 330 ºC. Essa temperatura é facilmente atingida em um incêndio estrutural.
q’’ = 0,69(330 – 22) / 0,12
q’’ = 1771 W = 1,771 kW/m2
Em um outro exemplo, se forem consideradas as mesmas temperaturas e espessura da parede, só que agora sendo esta feita em aço, obter-se-á o seguinte valor:
q’’ = 45,8(330 – 22) / 0,12
q’’ = 117553,3 W = 117,553 kW/m2
Como se pode notar, a uma mesma diferença de temperatura e com mesma espessura de parede, a taxa de fluxo de calor por condução na parede de aço será 66 (sessenta e seis) vezes maior que a encontrada na parede de tijolos.
Em casos reais, a transferência de
calor se dá em todas as direções, simultaneamente, enquanto
nesses exemplos calculou-se o fluxo de calor em uma direção apenas. Camadas de
diferentes materiais, suas diferentes formas e o tempo de exposição à fonte de calor
são fatores que irão aumentar a complexidade desse processo.
Em virtude disso, os cálculos do fluxo
de calor em incêndios reais, normalmente, são obtidos pelo emprego de modelos
próprios para processamento computacional.
Geralmente, a transferência de calor é
instável (regime transiente) e leva algum tempo para o calor penetrar através
da parede.
Uma estimativa empírica de quanto tempo
levará para a outra face do corpo sofrer aumento de temperatura pode ser dada
pela expressão:
Na qual:
t é o tempo de penetração térmica (dado
em segundos).
l é a espessura da parede (dada em metros).
α é o coeficiente de difusividade térmica.
Isso significa que a onda de calor
levará o tempo calculado pela fórmula acima para penetrar e atravessar a
parede.
Nas mesmas condições do exemplo
anterior, com uma parede de 12 cm, é possível obter para
os diferentes materiais:
Note-se que o tempo que o fluxo de
calor leva para atravessar uma parede de
tijolos é 28 (vinte e oito) vezes maior que o tempo de atravessar uma parede de
aço, igualando a sua temperatura.
Tomando-se, novamente, o exemplo da
parede de tijolos.
Se for calculado o tempo de penetração
do calor em três espessuras diferentes, sendo uma com 10 cm, outra com 20 cm e a última com 30 cm de
espessura, obtém-se os valores abaixo:
• Tempo da parede com 10 cm = 1.201 s = 20 minutos
• Tempo da parede com 20 cm = 4.800 s = 80 minutos
• Tempo da parede com 30 cm = 10.817 s = 180 minutos
Por esse motivo, os cálculos para
dimensionamento de paredes e portas corta-fogo são importantes para os estudos
dos sistemas de engenharia contra incêndio e pânico, quando o assunto é resistência
ao calor proveniente do incêndio, como forma de se evitar sua propagação.
Figura 38 - Tempo de penetração do calor
em função da espessura de paredes feitas de tijolo, concreto e aço
Observa-se, conforme o gráfico presente
na Figura 38 que o concreto e o tijolo possuem comportamentos semelhantes no
que diz respeito ao tempo de penetração do calor, ao contrário do aço, capaz de
transferir a mesma quantidade de calor em questão de minutos.
3.2. Convecção
Em um fluido em movimento, a
transferência de seu calor até uma superfície sólida ou para outro fluido é
chamada de convecção. Um fluido é qualquer material que possa escoar. Trata-se
sempre de um líquido ou de um gás (ar, fumaça, gás combustível, etc.).
Figura 39 - Transferência de calor por convecção
A convecção é a forma de transferência de calor que ocorre em fluidos – meio líquido ou gasoso.
Nesse
tipo de transferência, o calor fluirá pelo contato direto entre as
moléculas do fluido. A convecção envolve três processos distintos: a
condução de calor, a diferença de densidade e a mudança de fase (estado
físico).
Figura 40 - Transferência de calor pela convecção da fumaça
Na
Figura 40, é mostrado que a fumaça transfere calor da base do fogo para a
parte mais alta da edificação (teto e pavimentos superiores) sem que
tenha havido contato direto com as chamas.
Quando o
fluido é aquecido, sua agitação molecular aumenta, elevando o número de
colisões entre as moléculas. Com isso, as moléculas mais externas são
empurradas para fora e alcançam o espaço ao redor, expandindo-se. Nesse
processo de expansão, o fluido se torna menos denso e, portanto, mais
leve que o ar, fazendo com que ele suba, atingindo as áreas mais altas.
Na
convecção, as moléculas aquecidas se chocam umas com as outras,
tornando o fluido menos denso (portanto, mais leve) e sobem,
distribuindo o calor pelo ambiente. Esse é o movimento natural da
fumaça, normalmente presente nos incêndios.
Por isso o ar aquecido sobe, enquanto o ar frio desce. A separação entre os dois meios chama-se balanço térmico.
Quanto
mais aquecido o ar, mais rápida e violenta será a ascensão da fumaça e
dos gases quentes. Em um ambiente aberto, o ar aquecido continuará
subindo até atingir o equilíbrio com a atmosfera.
Fig 42 - A tendência natural da fumaça de um incêndio é subir!
Em
ambientes fechados, os gases aquecidos ficam dispostos em camadas de
temperatura crescente do piso ao teto. Próximo ao piso, toda a área
horizontal apresenta temperatura semelhante, que é muito inferior à
temperatura próximo ao teto.
Quando se aplica água na proporção
adequada ao incêndio, o calor é absorvido e forma-se vapor, o qual sobe por
efeito da convecção, e a temperatura do ambiente cai, mantendo-se o balanço
térmico. Essa situação propicia mais conforto para o bombeiro e um rescaldo
mais fácil e rápido.
Quando se usa água além da necessária,
forma-se vapor excessivo, que não consegue subir e acumula-se no ambiente. A visibilidade
diminui, e a temperatura aumenta próximo ao piso, dificultando o trabalho dos
bombeiros e o rescaldo. Se isso ocorrer (temperatura mais alta em baixo), a
extinção dos focos restantes será dificultada, o que contraria o senso comum.
A aplicação de muita água atrasa a extinção do
incêndio.
Nas situações em que o movimento do
fluido é induzido por um ventilador ou outro dispositivo qualquer, se dá uma
convecção forçada.
Nesse caso, o percurso do fluido
aquecido será afetado e poderá transmitir calor para materiais que se encontrem
na rota de escape da fumaça. O uso de ventiladores e outros dispositivos de
ventilação tática devem ser adotados com cuidado e são assuntos presentes no
Módulo 3 deste manual.
O movimento ascendente do fluido
aquecido (nos processos de convecção natural ou forçada) torna-se particularmente
perigoso em incêndios em edificações que possuam mais de um pavimento, com a presença
de corredores verticais contínuos (fossos de elevadores ou tubulações).
Perigo semelhante ocorre com as
escadas, por permitirem que a fumaça suba de um pavimento para o outro. Uma
forma simples de lembrar do perigo das escadas para a convecção é: se uma
pessoa consegue acessar o pavimento superior por uma escada, a fumaça também
pode e, certamente, o fará.
Esse processo pode ocasionar a
propagação de incêndio em
pavimentos descontínuos, aparentemente
sem relação com o foco de incêndio original, pela movimentação da fumaça dentro
do ambiente.
Como a fumaça é um bom meio de
propagação do calor por
convecção e estará presente nos
incêndios, é necessário que os bombeiros envidem esforços no sentido de não
permitir que a massa aquecida atinja outras superfícies ou ambientes
preservados durante a ação de combate a incêndio.
Logo eles não devem permitir que sua
atenção esteja voltada somente para a ação das chamas, uma vez que,
freqüentemente, os danos causados pela convecção – ação do calor e da fuligem –
são muito maiores que os danos causados pela ação direta das chamas.
Em uma situação típica de convecção
natural, há o exemplo da corrente de ar quente sobre uma superfície de água
congelada. A transferência de calor por condução nessa superfície depende da diferença
de temperatura, ΔT, próxima a ela. Pela lei da condução,
a transferência de calor, proveniente do ar sobre a superfície gelada, é dada
pela equação:
Na qual l é a distância entre as temperaturas correspondentes
O fluxo de calor, até um anteparo sobre a superfície congelada, é dado por:
Tendo em vista que a corrente de ar
encontra-se em movimento e não possui dimensões definidas como os materiais
sólidos, a expressão de Fourier não permite que seja calculada a quantidade de calor
transferida em função do contato entre dois fluidos ou entre um fluido e um
sólido.
Portanto, a avaliação de como se dá a
transferência de calor entre esses dois meios depende de dois processos básicos
que estão presentes: as características do movimento do ar em torno da
superfície de água gelada e como o calor é transportado pelo fluxo de ar. A solução
analítica para esse problema, ainda que considerada apenas uma direção, é de
razoável complexidade.
De maneira sucinta, será apresentado
neste manual somente o parâmetro que reúne esses efeitos, o coeficiente de
transferência de calor convectivo, representado por h.
Daqui por diante, a equação que determina
o fluxo de calor por convecção em uma superfície é dada por:
Como no caso da condução, as soluções
de problemas reais de convecção são obtidas com o emprego
de processamento computacional de métodos numéricos específicos. Para os
objetivos deste trabalho, são apresentadas soluções empíricas para situações típicas
presentes nos incêndios. A tabela a seguir mostra o coeficiente de
transferência de calor convectivo em algumas condições ambientais:
Convecção é a transferência de calor nos fluidos, pelo
movimento de massa de um meio líquido ou gasoso, causada pela diferença de
densidade entre moléculas quentes e frias, fazendo com que as partículas
aquecidas subam e as frias desçam.
É importante não confundir a convecção
com a Lei de Fick, falada anteriormente na chama difusa.
Enquanto esta trata da difusão dos gases (combustível e comburente), saindo de
uma zona de alta para uma zona de baixa concentração; na convecção há apenas
diferença de densidade, com a ocorrência de deslocamento ascendente de fluido aquecido,
o que não ocorre com a difusão.
O fluxo de calor convectivo será maior
em ambientes confinados (em compartimentos como cômodos ou interior de
veículos), devido ao empuxo e à delimitação de espaço feita por
teto e paredes laterais, que faz com que a fumaça se acumule.
Empuxo é a força que atua para cima, em
qualquer corpo que esteja total ou parcialmente imerso em um fluido. Essa força
será igual ao peso do fluido que foi deslocado pelo corpo (Princípio de Arquimedes).
Pelos dois aspectos acima citados, a
parte mais alta do cômodo estará a uma temperatura bem mais alta do que próximo
ao solo, influenciando, sobremaneira, o comportamento dos bombeiros durante o
combate a incêndio quanto à:
• necessidade do uso completo e correto do equipamento de
proteção individual;
• necessidade de escoamento da fumaça acumulada no ambiente;
• entrada e trabalho agachado ou ajoelhado;
• utilização do jato apropriado na fumaça a fim de que a temperatura
do ambiente seja estabilizada dentro da técnica adequada antes de alcançar o
foco do incêndio.
Tal procedimento encontra-se presente no Módulo 3 deste manual.
Uma das características do fluido é a tendência a
ocupar todo espaço disponível. Por isso, cuidado para onde a fumaça está indo
em um incêndio!
Radiação térmica
É a transferência de calor por meio de
ondas eletromagnéticas, que se deslocam em todas as direções, em linha reta e à
velocidade da luz, a partir da chama. Essas ondas podem ser refletidas ou absorvidas
por uma superfície, abrangendo desde os raios ultravioletas até os infravermelhos.
A radiação é a única forma de
transferência de calor que não depende de meio material para se propagar e pode
aquecer até mesmo os objetos mais distantes em um ambiente. Um exemplo clássico
é o sol, que aquece a terra apesar da distância entre os dois.
A radiação é a forma de transferência de calor por meio
de ondas eletromagnéticas.
Todos os corpos que se encontram a uma
temperatura superior ao zero absoluto emitem radiação, normalmente, em pequena quantidade.
A expressão que determina a intensidade de calor por radiação emitida por um
corpo, a equação de Stefan-Boltzmann, é dada por:
Na qual o σ é a constante de Stefan-Boltzmann, de valor fixo (6,7x10-12
W/K4) e ε a
emissividade, característica de cada tipo de material, que varia de 0 a 1. Portanto, em virtude da
baixa ordem de grandeza da constante, apenas em temperaturas elevadas, um
objeto pode irradiar uma quantidade significativa de calor.
Em um incêndio, o calor será irradiado
em todas as direções. O material que estiver em seu caminho irá absorver o
calor fornecido pelas ondas e terá sua temperatura elevada, o que poderá causar
a pirólise, ou, até mesmo, fazer com que atinja seu ponto de ignição.
Para que se manifestem os efeitos da
radiação térmica, é necessário que:
• a fonte de calor esteja com temperatura elevada o suficiente
para produzir um fluxo de calor significativo;
• os materiais ainda não atingidos sejam capazes de absorver
calor;
• os materiais retenham o calor, sem dissipá-lo (nas mesmas
proporções) para o ambiente.
A intensidade da propagação do calor
por radiação irá aumentar ou diminuir à medida que os materiais estejam mais
próximos ou mais distantes da fonte de calor, respectivamente. Portanto, a
regra prática em um combate a incêndio é: quanto maior a distância entre a fonte
de calor e os outros materiais, menor será a transferência de calor por
radiação.
O afastamento ou retirada dos materiais combustíveis de
um ambiente incendiado pode representar uma importante ação no combate a
incêndios.
A Figura 45 mostra a ação das ondas eletromagnéticas,
a partir das chamas, em direção à escada.
Em um incêndio, a fumaça transfere
calor por convecção e radiação. Se o incêndio ocorre em um
cômodo, o calor da fumaça e dos gases acaba sendo limitado pela presença das
paredes e do teto. A seguir, o calor do teto é irradiado para baixo, fazendo
com que a mobília sofra pirólise e atinja seu ponto de ignição, inflamando os
materiais de uma forma generalizada (flashover).
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